Um acordo entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e os líderes das aldeias xicrins acabou ontem com o bloqueio de dois dias à mina de ferro de Carajás explorada pela Companhia Vale do Rio Doce em Parauapebas, no sudeste do Pará. Os índios deixaram o local divididos em grupos, mas continuarão lutando para receber mais do que os R$ 9 milhões que a Vale lhes paga anualmente por explorar o minério na região e para ar com os vagões da ferrovia de Carajás por dentro da reserva indígena.
A Vale se negou a fazer acordo sem que os índios deixassem a empresa. O da Funai em Marabá, Raulien Oliveira, que convenceu os índios a sair, fez críticas à Vale. Ela está brincando com os índios. Eles cumpriram a parte deles liberando a área e até agora a empresa não marcou uma data para reunir-se com eles, cobrou Oliveira. Agora que os índios saíram, completou ele, resta à Vale levar representantes para uma reunião com os índios e a Funai, em Brasília.
Os xicrins ocuparam as instalações da Vale na terça-feira à tarde, impedindo a saída dos funcionários. Além do reajuste do recurso, eles também exigem a construção de quarenta casas na comunidade Cateté e vinte casas em outra, a Djudjeko, recuperação e manutenção das estradas de o às duas aldeias.
A justiça de Redenção deu à Vale liminar de reintegração de posse na noite do mesmo dia, mas os índios decidiram manter o bloqueio. A negociação foi dura. A ordem dos caciques era só deixar o local depois de uma reunião com a Vale, mas o diretor do Sistema Norte da Vale, José Carlos Soares, resistia: Sob chantagem não haverá negociação. O bloqueio havia deixado 12 mil funcionários paralisados e dois caciques que lideravam o protesto foram taxativos: Ninguém sai daqui, estamos preparados para ficar mais de três semanas.
A Funai apóia os xicrins na luta por aumento do valor pago pela empresa e outras melhorias em suas condições de vida. O diretor da Funai, Almir Queiroz, entende que a Vale não está fazendo nenhum favor aos índios : Ela deve dar uma compensação melhor pela exploração de todo esse minério. Não podemos esquecer que essa exploração traz prejuízos para as comunidades que vivem por aqui.
A Vale deixou de produzir 250 mil toneladas de minério de ferro por dia depois que os índios fecharam a mina e impediram o carregamento dos vagões. Entre sete e dez navios estrangeiros aguardam em fila, no porto de Itaqui, para serem carregados. Agora, que os índios cederam, as negociações serão retomadas.
Cestas básicas
Cerca de 120 índios de quatro etnias de Alagoas e Sergipe, que ocupam desde domingo a sede da Funai em Maceió, ameaçam interditar a qualquer momento a BR-301, entre os municípios de Porto Real de Colégio, em Alagoas, e Propriá, em Sergipe, na divisa dos dois Estados, caso não sejam atendidos nas suas reivindicações. Eles exigem a liberação de cestas básicas, assistência à saúde, educação e a regularização das terras ocupadas pelas tribos Kariri/Xocó e Xuxurus/Kariri, de Alagoas, e Xocó/Kuará e Kaxangós, de Sergipe. Os índios reivindicam ainda a saída do da Funai em Alagoas, José Heleno.
A ocupação é pacífica, diz o pajé Júlio Queiroz Suíra, da tribo Kariri/Xocó, mas por tempo indeterminado. Não aceitamos negociar com a Funai de Alagoas porque o gerente de lá está enrolando há muito tempo. Só negociaremos com o presidente nacional da Funai. Suíra, outro pajé dos Karici/Xocó, disse que a tribo, ajudada por outras etnias, aguarda apenas uma ordem para interditar a BR, próximo à ponte sobre o Rio São Francisco, na divisa de Alagoas com Sergipe.
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