Nas duas últimas décadas do século 20, o sistema ferroviário brasileiro atingiu um grau de deterioração jamais visto na história do país. Mal conservadas, as ferrovias impediam o aumento do volume de carga transportada e a frota obsoleta tornava a operação ineficiente. Com a privatização iniciada em 1996, o cenário vem mudando rapidamente. Os investimentos de cerca de 7 bilhões de reais nos últimos cinco anos transformaram um modelo em colapso num caso raro de recuperação. De apenas 18% em 1996, as ferrovias responderam no ano ado por 25% do transporte de cargas no Brasil. Segundo projeções da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o percentual deverá chegar a 30% em 2008. A expansão da malha e a modernização da frota provocaram importantes mudanças no setor. Até um ado recente, os trens brasileiros serviam apenas para o transporte de grãos e minério, mercadorias normalmente destinadas à exportação e com menor retorno para os transportadores. Nos últimos tempos, porém, as grandes operadoras ferroviárias aram a explorar um novo tipo de cliente: as indústrias. Obviamente, grande parte da safra agrícola e da produção extrativista ainda é transportada em vagões, mas os comboios levam com freqüência crescente produtos de maior valor agregado.
Para continuar a crescer nesse ritmo e atender a essa nova clientela, as empresas ferroviárias partiram para uma nova estratégia — as soluções sob medida. Trata-se da aplicação do conceito de personalização de produtos, conhecida no jargão do marketing como customização, ao mundo das ferrovias. As empresas ferroviárias estudam as necessidades de seus clientes ou possíveis clientes e adaptam o serviço que oferecem a essas demandas. Isso pode incluir o uso de caminhões ou até a construção de novos ramais na malha ferroviária. Só no ano ado, a América Latina Logística investiu 250 milhões de reais em adaptações desse tipo. Outros 200 milhões de reais foram aplicados pelos clientes, em projetos de parceria. A MRS Logística, outra gigante do setor, pretende investir 1 bilhão de dólares em ações de customização de transporte de carga.
Mais clientes, mais vagões
O crescimento da demanda contribuiu para a recuperação da frota ferroviária brasileira
Período Vagões*
Década de 70 – 5000
Década de 90 – 1000
Hoje – 7500
* fabricados por ano no país
Fonte: Associação Brasileira da Indústria Ferroviária
Um caso que ilustra bem essa mudança de comportamento das empresas ferroviárias é a parceria que a ALL mantém com a Sadia — e as soluções que as duas empresas encontraram para resolver um problema operacional. O projeto original era transportar os alimentos congelados da fábrica da Sadia em Toledo, no interior do Paraná, até Cascavel, uma distância de 50 quilômetros de estrada. Dali, a carga deveria ser embarcada em vagões com destino ao porto de Paranaguá, no litoral paranaense. Essa operação exigia um custo adicional importante e um alto risco de atrasos. Para cada dez vagões com alimentos, a ALL tinha de providenciar um vagão-gerador, de forma a manter os produtos congelados na temperatura ideal. Se o gerador quebrasse, ficaríamos com todos os dez vagões de carga parados, diz Alexandre Campos, diretor da ALL. Para resolver o problema, a ALL partiu para uma solução que envolveu tecnologia e investimentos: a construção de uma estação de recarga de frio em Curitiba. Os produtos percorrem o mesmo trajeto, mas não precisam mais do tal vagão-gerador. O transporte ficou mais flexível e com custo menor, afirma Campos.
Carga pesada
O transporte ferroviário obteve em 2005 o melhor desempenho dos últimos anos.Veja o aumento de carga transportada — em bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU)
2000 – 155
2001 – 163
2002 – 170
2003 – 183
2004 – 206
2005 – 222
Fonte: Ministério dos Transportes
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