Enquanto os ageiros enfrentam longas esperas e superlotação, a TM mantém em seu pátio de Presidente Altino, em Osasco (Grande São Paulo), um pequeno cemitério de vagões abandonados.
Ao relento ou dentro das oficinas, são mantidas por lá, paradas, 17 composições da companhia (a frota disponível para a operação é de 119) -fora outras que foram herdadas da extinta Fepasa e da CBTU. Muitas delas têm seus bancos, janelas, fiação e outras peças alvos de vandalismo, furto e do chamado canibalismo.
O canibalismo é uma prática realizada por funcionários da TM, que retiram peças de trens usados, abandonados ou temporariamente parados para colocá-las nas composições que estão em circulação hoje.
Ela foi relatada por mais de dez empregados entrevistados pela Folha. O motivo, afirmam eles, é a falta de peças novas ou a demora para comprá-las.
Além da ausência de controle de qualidade delas (algo que pode expor usuários a risco, segundo profissionais), esse procedimento agrava a condição dos trens parados, diminuindo a chance de reparo de muitos que poderiam voltar a operar.
Segundo a TM, nas oficinas existe a reutilização de peças que não estão mais disponíveis no mercado. Mas ela nega que essa prática seja canibalismo, porque diz que a medida não se deve à falta de recursos.
Segurança – A segurança dos trens abandonados em Presidente Altino é precária. Não há muro para separar boa parte da área de uma via pública em Osasco.
Qualquer um entra lá e tem o aos trens e peças. A TM diz que não havia recursos para obras do tipo no orçamento, mas que a diretoria atual já aprovou a construção de quatro quilômetros de muros no local para 2008.
Funcionários dizem que não têm ocorrido com freqüência as manutenções preventivas conhecidas como R2 e R3. A TM nega e afirma que elas são realizadas de acordo com a disponibilidade de fornecimento de peças pelo mercado. A situação, que envolve não só os trens da linha C, foi agravada há três meses, quando venceram os contratos terceirizados de manutenção.
A TM diz que pretendia prorrogá-los, mas não foi possível por serem considerados irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado. Por isso, foi necessária nova licitação.
A companhia afirma que, dos trens parados em Presidente Altino, uma parte poderá ser recuperada com um projeto em estudo de PPP (Parceria Público-Privada). Se ele não for viabilizado, entrarão no programa de manutenção. Existem outros, diz a TM, que aguardam baixa e serão leiloados.
Vandalismo – Ainda mais do que no pátio, Everson Craveiro, vice-presidente do STEFZS (sindicato que representa os ferroviários das linhas C e B), afirma temer as ações de vandalismo no trecho recém-inaugurado da linha C, de Jurubatuba a Autódromo.
Os aparelhos de mudança de via ainda não estão sendo usados, mas Craveiro diz que três deles estão fechados de forma precária, com cadeados que poderiam ser alvos fáceis de vandalismo. Alguém pode ir lá, quebrar e provocar um descarrilamento. E, sem sinalização, ninguém ficará sabendo.
Acidentes provocados por vandalismo com sabotagem não são inéditos -a TM já citou essa causa para descarrilamentos em 2004 e 2005. A TM diz que os locais são seguros, próximos à estação, vigiados por seguranças 24 horas. Ela nega qualquer risco aos usuários.
Seja o primeiro a comentar