A chamada ferrovia Leste-Oeste, cujo traçado vai de Ilhéus (BA) a Vilhena (RO), ando por Cocalinho, Água Boa, Lucas do Rio Verde e Campos de Júlio, em solo mato-grossense, pode deixar de ser projeto e sair do papel ainda neste ano. Entidades rurais do Estado estão se organizando para participar ativamente do empreendimento, dentro de um modelo inédito de parceria entre União e setor privado. O objetivo com isso é reduzir os custos de produção gerados pelos gargalos de logística em Mato Grosso, que anualmente consomem cerca de R$ 1 bilhão.
A Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e da Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa), está estudando a melhor forma de participar do processo de subconcessão para implantação e operação da ferrovia. O valor do projetado não foi revelado, já que este modelo ainda depende de informações que serão conhecidas somente após o levantamento real do traçado dos trilhos.
“Hoje um dos nossos maiores gargalos é a questão logística, que encarece os custos com o escoamento e reduz nossa competitividade, diminuindo nossa renda. Nossa participação nesse empreendimento poderá resultar em ganhos muito grandes para todos os produtores mato-grossenses”, argumenta o presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira.
A idéia já vinha sendo acalentada pelas entidades, mas foi fortalecida após uma reunião, realizada ontem na sede da Famato e que contou com a participação do diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (Dnit), Luiz Antonio Pagot, e do presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S/A, José Francisco das Neves. No encontro, promovido pela Aprosoja/MT, foi discutida a possibilidade de as entidades rurais se unirem para pleitear a gestão de pelo menos algum subtrecho da ferrovia.
Isso só se torna possível por meio do modelo de gestão criado pela Valec para dar continuidade às obras da ferrovia Norte-Sul. Idealizada para cortar o país no sentido Norte/Sul, essa ferrovia soma 1.550 km que cortam os estados de Maranhão, Tocantins e Goiás, “onde se integra com ferrovias privadas, ligando o Norte e o Nordeste com o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País”.
A Valec é uma sociedade anônima, fechada, controlada pela União e supervisionada pelo Ministério dos Transportes. “Tínhamos ainda vários trechos para ser concluídos e pouca disponibilidade de recursos. Idealizamos então um modelo em que a Valec leiloa parte do traçado para empresas privadas, que ficam então responsáveis pela operação, conservação, manutenção, monitoração e adequação daquele trecho num contrato de 30 anos”, explica o presidente da estatal, José Francisco.
Esse mesmo modelo será utilizado para viabilizar a ferrovia Leste-Oeste, cujo estudo ambiental já está contratado. Neste momento, os aviões responsáveis pelo levantamento real do traçado dos trilhos já estão em Mato Grosso, e inicialmente a perspectiva é de que em 2009 o projeto básico do empreendimento esteja concluído, dando caminho para o leilão da subconcessão.
“É uma ótima oportunidade para Mato Grosso, que pode e deve participar desse empreendimento”, sugere o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot. A previsão é de que sejam necessários 1.500 km de trilhos para ligar Iguaçu (GO) a Vilhena, cortando solo mato-grossense.
CARGA – De acordo com o presidente da Valec, dois fatores são fundamentais não apenas para viabilizar o projeto da Leste-Oeste como também para agilizar os trâmites: a garantia de carga para ser transportada e a inclusão da obra na agenda de prioridades do governo federal. “Carga, nós temos: são cerca de 15 milhões de toneladas de grãos a cada ano”, frisa o presidente da Famato, Rui Prado.
Quanto à agenda governamental, as entidades participantes se organizaram para buscar uma audiência com o governador do Estado, Blairo Maggi, a fim de apresentar a proposta da subconcessão e solicitar apoio institucional e político junto à Presidência da República. A idéia é de que já em setembro seja definida a forma de constituição do pool de entidades, a configuração jurídica, participantes, etc. O assunto volta à pauta durante evento que será realizado pela Aprosoja/MT no dia 19 de setembro, em Cuiabá. ”Tudo que a Valec tem para fazer, está fazendo. Todas as ações istrativo-burocráticas vêm sendo realizadas. Entrando a Leste-Oeste na pauta do governo, podemos entrar em operação já em 2012”, calcula José Francisco. O projeto da ferrovia Leste-Oeste está previsto no Plano Nacional de Logística de Transportes (PNLT).
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