Depois de várias reuniões com os investidores interessados no Trem de Alta Velocidade (TAV) – movimento que se intensificou nas últimas semanas -, o governo está cedendo às pressões do empresariado. Se a demanda de ageiros pelo trem-bala ficar aquém das expectativas, o empréstimo reado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá ter juros menores.
Essa deverá ser a principal mudança no edital que sairá até o fim deste mês. Temos segurança quanto ao estudo de demanda que foi feito, mas o governo, até para aumentar a atratividade do projeto e incentivar a competição, realmente avalia melhorar as condições de financiamento se houver frustração de demanda, revelou à Agência Estado o presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo.
O Tesouro Nacional, por meio do BNDES, emprestará até 60% dos R$ 34,6 bilhões estimados para a construção do trem-bala, que fará a ligação entre São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro. Até agora, sabe-se que a linha de crédito custará a variação da TJLP, mais 1% ao ano.
O que está em estudo é reduzir o juro do empréstimo caso a demanda fique abaixo de 33 milhões de ageiros em 2015 ou 110 milhões de usuários em 2044. Além de juros ainda menores, o governo já acenou que poderá atenuar o risco de demanda do concessionário, esticando as parcelas do financiamento. A ideia é aumentar o prazo de 30 anos para 40 anos, que é o período de vigência da concessão.
Nas reuniões conduzidas nas últimas semanas com cada grupo interessado, Figueiredo ouviu um tema recorrente: como o governo pode compartilhar o risco de demanda de um projeto dessa magnitude – e sem precedente no País. Questionado se o mercado se contentará com os juros menores para compensar demanda menor, o presidente da ANTT responde, bem-humorado: Não sei se eles se contentaram ou se conformaram. De acordo com ele, o governo vai até o limite possível e precisa tomar decisões para testar o mercado. A maior parte dos grupos achou que este mecanismo de flutuação dos juros é eficiente.
Para o presidente da Alstom, Philippe Delleur, a opção pode ser interessante. Mas é difícil cravar que seria a solução para o risco de demanda. O diretor-presidente da Asian Trade Link (ATL), Marco Polo Moreira Leite, responsável pela ponte entre o empresariado chinês e o governo brasileiro, acha que o governo poderia definir um piso para a demanda e, abaixo disso, absorver os riscos com a iniciativa privada. Tem de haver mecanismos claros de compensação.
Outro pleito da iniciativa privada, que não deverá ser atendido pelo governo, é o aumento das garantias com desapropriação. As empresas também querem fixar um cronograma para que eventuais atrasos com o reassentamento não onerem o projeto. A União orçou em R$ 2,26 bilhões as despesas com essa finalidade, o equivalente a 6,5% do total a ser desembolsado.
Edital neste mês. O edital de licitação do trem-bala deve sair ainda este mês, segundo o dirigente da ANTT, que espera para esta semana um pronunciamento do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a concorrência. Respondemos a todas as questões que o TCU nos fez. Não vemos razão para que o processo se prolongue por mais tempo, comentou.
Segundo ele, pode até ser que ANTT e Ministério dos Transportes, por determinação do TCU, tenham de fazer algum ajuste ao texto. Mas normalmente, quando sai o acórdão, leva-se no máximo uma semana para a publicação do edital.
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