A falta de marcas de freio nos trilhos e a constatação de que até pedaços de arame eram usados para afixar estruturas do bondinho fizeram com que especialistas do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ) apontassem a falta de manutenção do veículo como causa provável do acidente que matou cinco pessoas e feriu 57 anteontem, em Santa Teresa.
O acidente provocou indignação dos moradores do bairro, que organizaram manifestação contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, apontados como responsáveis. Cabral comentou o acidente por meio de nota, enviada ontem à noite, 28 horas após comentou o episódio. Ele lamentou “profundamente” e disse que determinou a elaboração de um plano de modernização dos bondinhos. Pelo menos dez pessoas seguiam internadas em hospitais públicos após ar por cirurgias. Entre os feridos havia turistas americanos, ses, ingleses e brasileiros.
Segundo o coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea, Luiz Antonio Cosenza, a superlotação do bondinho – uma das causas indicadas pelas autoridades para a tragédia – não explica o desastre. Para ele, o mais provável é que tenha havido problemas no freio. A lotação dos bondes é de 32 ageiros sentados e oito em pé: 40 ao todo. O número de vítimas, 62 entre mortos e feridos, indica superlotação.
“O peso pode até ter colaborado com a saída dos trilhos. Mas a causa do acidente, para mim, não foi a superlotação. É possível que o freio tenha sido acionado, mas que não tenha funcionado. Pode ter sido um problema de vazamento de ar no compressor. Demos uma olhada lá para cima. Se o freio tivesse sido acionado e a roda travado, haveria marcas no trilho. E não há essas marcas. É como se a roda tivesse vindo solta”, disse o engenheiro, classificando como “lamentável” o uso de um arame no lugar do parafuso para prender estrutura perto do eixo das rodas e do sistema de freio do bonde. A perícia do acidente foi feita pelo Instituto de Criminalística, cujos técnicos devem entregar o laudo antes de 30 dias.
Manutenção. Sebastião Rodrigues, presidente da Central Logística, empresa do governo do Estado do Rio que istra o sistema de bondes de Santa Teresa, afirmou que todos os veículos am por manutenção semanal e que as peças são trocadas sempre que necessário.
As informações de Rodrigues foram questionadas pela Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast)e por funcionários da empresa presentes ao enterro do condutor Nelson Correia da Silva. “Os funcionários da manutenção fazem milagres com pedaços de fio”, afirmou a professora Marisa Brandão, 48 anos. “Nelson contava que não havia manutenção”, disse o amigo Fábio Oliveira.
Seja o primeiro a comentar