A China está injetando substancialmente mais dinheiro em sua economia e sinalizando que pode dar um apoio maior ao crescimento econômico no segundo semestre, apesar das preocupações com o endividamento crescente e a lentidão das reformas.
O crescimento de dois dígitos nos dados de novos empréstimos e dinheiro disponível na economia em junho, anunciado ontem pelo banco central, superou a expectativa dos economistas. Os números indicam que a China financiou ativamente projetos de ferrovias, casas populares e energia, para aumentar a produção industrial.
“Abrir a torneira do crédito tem como meta estimular o crescimento econômico, que está sendo pressionado cada vez mais para baixo”, diz Ma Xiaoping, economista do HSBC. Os recursos devem alimentar a expansão econômica até o fim do ano, dizem alguns analistas, embora o crescimento em 2015 possa desacelerar sem estímulos mais direcionados.
“O crescimento no segundo semestre deve ser maior que no primeiro”, diz Shuang Ding, economista do Citibank. “Mas a tendência, após isso, será a redução gradual do crescimento do crédito. É um exercício difícil de equilíbrio.”
Desde que a segunda maior economia do mundo começou a perder fôlego, no início deste ano, o governo chinês vem tomando mais medidas para compensar a queda nos investimentos e nas exportações e o desaquecimento do mercado imobiliário.
O PIB da China cresceu a uma taxa anualizada de 7,4% no primeiro trimestre, ante o mesmo período do ano ado, a menor alta em 18 meses, comparado com 7,7% no quarto trimestre de 2013. O crescimento no segundo trimestre deste ano, que será divulgado hoje, deve praticamente igualar o do primeiro. A China estabeleceu uma meta de crescimento de 7,5% para 2014.
O governo espera que seu uso de estímulos específicos alimente o crescimento sem virar uma fonte de crédito fácil para estatais inchadas e incorporadoras endividadas. Os dados de crédito de ontem indicam que os problemas com o crescimento estão se sobrepondo às preocupações com as ineficiências mais amplas da economia.
As instituições financeiras da China concederam 1,08 trilhão de yuans (US$ 174,2 bilhões) em novos empréstimos em junho, contra 870,8 bilhões de yuans em maio, divulgou o banco central. O total de financiamento social, uma medida mais ampla do crédito na economia, avançou 40,7% em junho em relação a maio. O M2, o indicador mais amplo do suprimento monetário no país, subiu 14,7% em junho ante o mesmo mês de 2013.
Com o crescimento econômico caindo, governos locais enfrentam uma crescente pressão para investir seus orçamentos de forma rápida e completa. Nas últimas semanas, Pequim enviou equipes de inspeção para assegurar que eles estão em acordo. O gasto público em junho subiu 26% frente ao ano anterior, para 1,652 trilhão de yuans.
A tendência de crescimento da China ajudou a impulsionar o emprego e a protelar uma difícil retração econômica, que poderia ecoar globalmente. Mas também adiou dolorosas medidas, consideradas necessárias por muitos economistas, para reduzir a dívida e reequilibrar a economia na direção de mais consumo interno e menos investimento e comércio internacional.
“Eles têm uma escolha entre o crescimento lento com ‘desalavancagem’ ou crescimento elevado com alto endividamento”, diz Dariusz Kowalczyk, economista do Crédit Agricole CIB. “No curto prazo, o risco da dívida é controlável. No longo, não é sustentável. Mas eles estão claramente escolhendo o crescimento” em vez da reforma.
Apesar do afrouxamento nas políticas fiscais e monetárias, a China enfrenta alguns desafios assustadores. Seu sistema financeiro é frágil, e muitas empresas cambaleantes e governos locais dependem de instituições do sistema paralelo de crédito (conhecidas como “shadow banking”), dizem analistas, tornando difícil avaliar riscos sistêmicos mesmo com Pequim tentando controlar essa forma de financiamento extraoficial.
O setor imobiliário da China, responsável por mais de 20% da economia quando indústrias relacionadas como aço e construção são incluídas, está enfraquecendo. A média dos preços de novas casas do país caiu em maio e junho, segundo o provedor de dados China Real Estate Index System, a primeira queda mensal em dois anos.
“O setor de imóveis é algo que o governo está monitorando de perto, embora em público tente não mostrar nenhum sinal de pânico”, diz Ding, do Citibank. “Eles estão muito cautelosos com a situação.”
Os investidores estrangeiros também estão perdendo o entusiasmo pela China, à medida que os custos trabalhistas sobem e a economia desacelera. O investimento estrangeiro direto na China no primeiro semestre de 2014 subiu parcos 2,2% ante o ano anterior, para US$ 63,3 bilhões, contra um aumento de 4,7% em relação ao período anterior verificado nos primeiros seis meses de 2013.
As reservas internacionais da China, porém, subiram para US$ 3,99 bilhões no fim de junho, acima dos US$ 3,94 trilhões de três meses antes, sugerindo que o capital continua vindo do exterior à medida que as exportações crescem gradualmente e a China continua registrando fortes superávits comerciais.
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