Perigo de tragédia ainda maior

A mineradora Samarco itiu ontem o risco de rompimento das barragens de Santarém e Germano, próximas à do Fundão, que se rompeu no dia 5 ado, em Minas. A empresa informou que faz “ações emergenciais necessárias” para reduzir o risco. O Ibama estima que o mar de lama, que está destruindo o Rio Doce e deixando milhares de pessoas sem água, chegará ao oceano, na costa do Espírito Santo, na sexta-feira. A presidente Dilma disse ontem que o trabalho de recuperação do Rio Doce o deixará “melhor do que estava antes”. A mineradora Samarco itiu ontem que há o risco de rompimento das barragens de Santarém e Germano, em Mariana (MG), vizinhas à barragem de Fundão, que se rompeu no último dia 5, afetando cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. Até ontem, a empresa negava esse risco. Em entrevista coletiva, representantes da empresa disseram estar trabalhando para diminuir o perigo de acidente.

— Tem o risco (de rompimento) e nós, para aumentar o fator de segurança e reduzirmos o risco, estamos fazendo as ações emergenciais necessárias — declarou o gerente-geral de projetos estruturais da Samarco, Germano Lopes.

A Samarco, cujos donos são a Vale e a angloaustraliana BHP, divulgou inicialmente que a barragem de Santarém também havia se rompido no dia 5, mas a informação foi corrigida. A mineradora afirmou que o que houve, na verdade, foi um “galgamento”. Isso significa que Santarém transbordou com os rejeitos da barragem de Fundão. Apesar disso, a empresa garante que “o maciço remanescente está íntegro, mesmo estando parcialmente erodido”.

ABAIXO DO FATOR DE SEGURANÇA

O diretor de operações e infraestrutura da Samarco, Kléber Terra, explicou na entrevista coletiva que o fator de segurança na barragem de Santarém é de 1,37 numa escala de 0 a 2. Esse valor significa uma estabilidade de 37% acima do equilíbrio mínimo, que é 1. Na de Germano, o diretor afirmou que um dos três diques, o Selinha, tem índice de 1,22, o menor em todo o complexo.

O fator de segurança, estabelecido pela norma técnica NBR 13028, prevê que a estrutura deve ter, no mínimo, o fator de segurança de 1,5 — numa condição normal de operação. Em condições adversas, é itido 1,3. Germano Lopes disse que, antes do rompimento, a barragem de Fundão tinha fator de segurança de 1,58.

Professor de Recursos Hídricos da Unesp, Jefferson Oliveira concorda que existe o risco de rompimento das barragens. Ele explica que a escala tem o valor de 0 a 2 porque as barragens em Mariana são altas, com mais de 20 metros.

— Quanto mais alta a barragem, menor o fator de segurança e maior é o risco — afirmou o professor, explicando que as chuvas na região podem piorar a situação porque podem trazer mais peso às barragens. — Toda barragem corre o risco de se romper. Elas são um equipamento muito perigoso. Tem que ter um plano de ação emergencial e monitoramento constante.

ATÉ TRÊS MESES DE OBRA

Santarém e Germano am agora por obras emergenciais. Blocos de rocha estão sendo colocados de cima para baixo, para reforçar a estrutura. Este procedimento deve durar cerca de 45 dias em Germano e 90 dias na de Santarém. A Samarco planeja, na área das barragens, construção de diques à frente de Santarém para conter os rejeitos, que continuam vazando.

A mineradora informou que vai utilizar floculantes, como deve ocorrer no Rio Doce. O uso desse produto — que faz com que os detritos sólidos se aglomerem e precipitem para o fundo do rio — foi uma das medidas sugeridas pelo Ibama para diminuir o impacto do desastre. Os sedimentos serão retirados por dragas e colocados em “ecobags”, que funcionam como filtro, por meio do qual o material sólido é retido.

O maciço — que é o corpo principal — da barragem de Santarém está preservado, segundo a mineradora, embora haja danos no ponto mais alto, chamado de crista, e em parte do vertedouro, estrutura que permite a saída de água.

— A barragem de Santarém está com volume de 5,5 a 6 milhões de metros cúbicos de sedimentos retidos. A barragem de Fundão, para a gente comparar, estava com 55 milhões de metros cúbicos. A gente está falando de uma escala dez vezes menor — disse Terra.

A Samarco informou na semana ada que a barragem de Germano está exaurida, mas não divulgou o volume atual e a capacidade da estrutura. Kléber Terra disse que é feito um monitoramento contínuo, e que não foi percebida nenhuma movimentação das barragens.

A Samarco vai enfrentar investigações em várias frentes. A Polícia Federal informou que abriu ontem inquérito para apurar o crime ambiental no Rio Doce. A Polícia Civil em Minas investiga a destruição de distritos de Mariana. Moradores desses distritos já começaram a ser ouvidos.

A lama chegou anteontem a Baixo Guandu, no Espírito Santo. Moradores foram até a Ponte Mauá para ver a água turva chegar. A cidade ou a fazer a captação do Rio Guandu, suspendendo o uso da água do Rio Doce. A geração de energia da Usina de Mascarenhas foi interrompida. Ontem, o Ministério Público do Espírito Santo informou que as pessoas que sobrevivem das águas do Rio Doce terão “renda mínima de sobrevivência” paga pela Samarco.

SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM MUNICÍPIOS

Enquanto a lama segue para o Espírito Santo, o governo de Minas decretou por 180 dias situação de emergência na região na Bacia do Rio Doce e nos municípios afetados. Com isso, as cidades têm mais agilidade na execução de obras emergenciais.

Os danos causados pela tragédia continuam gerando protestos contra a Vale. Na noite de anteontem, manifestantes picharam a portaria da empresa em Vitória, que teve os vidros quebrados. Em meio aos atos, a Vale divulgou ontem que a água fornecida para Governador Valadares (MG) não tinha querosene, contestando informação divulgada pela prefeitura.

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