Setec tenta diversificar carteira de projetos

Dois anos turbulentos é o que o novo presidente da empresa de projetos de engenharia Setec Hidrobrasileira, subsidiária do grupo francês, espera enfrentar no cargo em meio à contração da economia e da paralisia do setor de construção por causa da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. O executivo Pérsio Augusto de Paula, em entrevista ao Valor, explica que o objetivo é diversificar a carteira de projetos para tentar crescer nesse ambiente.

Atualmente, a companhia possui majoritariamente contratos com governos do Estado de São Paulo e do Ceará. A ideia é conseguir mais licitações com municípios, com maiores chances de serem realizadas, e também aumentar a relação com a iniciativa privada. Os setores preferenciais para a companhia seriam o rodoviário e o ferroviário.

“Em 2016 e 2017, queremos conseguir manter o faturamento, mas é óbvio que com a crise que enfrentamos será difícil, apesar de haver oportunidade de crescimento”, comenta o executivo. “Quem sabe consigamos crescer um pouco. O setor ferroviário é onde eu enxergo as maiores chances.”

No âmbito rodoviário, a Setec supervisionou as obras e cuidou do gerenciamento do Rodoanel em São Paulo. Já em ferrovias, em 2014, a companhia conquistou os serviços de e de engenharia, controle e fiscalização da Transnordestina, controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de Benjamin Steinbruch, no trecho que vai de Eliseu Martins (PI) até Trindade (PE).

O maior projeto da Setec hoje é a Linha 6 do Metrô de São Paulo, para a qual o grupo auxiliou na certificação de serviços. O consórcio que cuida das obras – chamado de Move São Paulo – é formado por Odebrecht Transport, Queiroz Galvão e UTC Engenharia, todas envolvidas na Lava-Jato. Mas Augusto de Paula afirma que não há nenhum contrato firmado diretamente com empreiteiras implicadas na operação, o que pode ajudar a empresa de engenharia a afastar a possibilidade de ter obras paralisadas por esse motivo.

“Essa situação se reflete em todas as companhias do setor, todo o mercado foi afetado”, diz. “Quando você paralisa grandes obras, toda a cadeia é afetada, todos os fornecedores de materiais e serviços perdem. Mas a crise é especialmente política e vai ser resolvida, porque o país ciclicamente a por esse tipo de problema e se reergue”, comenta.

Com a recessão econômica, os maiores clientes do grupo, que são os Estados, começam a segurar recursos para projetos. “Não vimos atrasos, mas alguns contratos foram suspensos e esperamos que sejam retomados em breve”, afirma Augusto de Paula.

O presidente da Setec preferiu não comentar quais acordos estão congelados, mas a companhia participa de projetos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (TM). Algumas das linhas já foram declaradas como não prioritárias pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A Setec participa das linhas 8, 10 e 13, por exemplo. A situação está sendo avaliada, declara Augusto de Paula, para saber se alguma atitude legal será necessária.

Sobre o ambiente no país, o executivo da empresa de engenharia opina que uma grande coalizão, entre os partidos no Senado, na Câmara e a Presidência da República, é necessária para que seja retomado o crescimento econômico. Para ele, a questão é primordialmente de confiança e a resolução da crise política pode destravar a economia.

“Nossos controladores veem a crise com muita preocupação, estão sempre em contato e querem saber quais nossas possibilidades no futuro”, revela Augusto de Paula. “Mas não tivemos nenhum aporte de capital recentemente e garanto que não vamos precisar”, acrescenta o executivo.

O grupo francês Setec possui 2,4 mil funcionários ao redor do mundo e faturamento anual de aproximadamente € 400 milhões. Em 2012, realizou uma fusão com a Hidrobrasileira, fundada em 1954. Até a chegada de Pérsio Augusto de Paula, na segunda-feira, dia 2, a subsidiária brasileira era comandada por Manuel Rodriguez, presidente do grupo internacional.

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