Usiminas vai iniciar ação de arbitragem contra sócia

A razão do conflito é o fato de o grupo japonês ter negado aprovar uma redução de capital de R$ 1 bilhão na Mineração Usiminas (Musa), produtora de minério de ferro da qual detém 30% do capital. A Usiminas é dona de 70%.


O presidente da Usiminas, Rômel de Souza, afirmou que vai iniciar um processo de arbitragem contra sua sócia Sumitomo Corporation. A razão do conflito é o fato de o grupo japonês ter negado aprovar uma redução de capital de R$ 1 bilhão na Mineração Usiminas (Musa), produtora de minério de ferro da qual detém 30% do capital. A Usiminas é dona de 70%.


Na assembleia geral extraordinária (AGE) da Musa no dia 10 deste mês, a Sumitomo votou contra a proposta. Se aprovada, seriam distribuidos R$ 700 milhões à Usiminas e R$ 300 milhões a ela. Para a siderúrgica, os recursos são essenciais, pois eram parte das exigências dos credores na renegociação de suas dívidas, no ano ado.


A Usiminas julgou que convocar a AGE seria uma forma de acelerar o processo, ou demonstrar a necessidade da companhia, disse Souza, em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, em São Paulo. Reconduzido ao cargo em outubro por decisão da Justiça, ele começa 2017 com essa missão, considerada difícil. O caso parecia mais simples do que se mostrou.


O Valor apurou que, caso o caixa da Musa não seja ado, o acerto com os bancos segue valendo. O termo é uma cláusula restritiva do contrato, o chamado covenant – se não for obedecido, os detentores têm o direito de pedir o vencimento antecipado. Caso a Sumitomo permaneça irredutível, a intenção da Usiminas seria já iniciar as conversas para um waiver – perdão por ter quebrado a promessa. Souza não quis falar sobre essa informação.


Vamos ar esse capital, garantiu. Temos de melhorar nosso poder de convencimento e aprofundar mais as conversas. A arbitragem terá lugar na filial do Rio de Janeiro da Câmara de Comércio Internacional (CCI), de Paris. Em paralelo, as conversas com o grupo japonês continuam e a siderúrgica já busca uma nova reunião.


Para fontes conhecedoras do caso e de como pensam os grupos japoneses, a missão de Souza deve ser mais difícil do que parece. A Sumitomo estaria preocupada em assumir um risco desnecessário de insolvência com o dinheiro que restaria em caixa – R$ 300 milhões. Além disso, o processo estaria sendo conduzido de maneira unilateral pela Usiminas.


A tradição de companhias japonesas é de uma postura mais conservadora e de visão de longo prazo dos negócios. O que a Usiminas quer é retirar R$ 1 bilhão do caixa da Musa, é a avaliação. A empresa é sólida financeiramente, com dívida de apenas R$ 12 milhões, segundo balanço de 2015. Mas o que preocuparia os japoneses, apurou o Valor, seriam potenciais obrigações com fornecedores, por exemplo. Procurada, a Sumitomo informou que não comenta o assunto.


Há ainda outra questão. A Lei das SAs determina que uma redução de capital requer 60 dias para que alguém com conta a receber possa exigir o pagamento imediato. A Musa tinha em 2015, além da dívida bancária, acordo com a MRS de compensação por não utilização do transporte de minério, suspenso devido falta de competitividade para exportar. São dez parcelas anuais de R$ 31,5 milhões.


Uma das possibilidades, além da redução de capital, é o empréstimo intercompanhia. O problema é que seria uma dívida subordinada, com os mesmos termos que se contrata com bancos no mercado, explica Souza. Em última instância, ele afirma que o importante para os credores é a entrada de R$ 700 milhões, por qualquer via.


Sobre o mercado brasileiro de aço, o executivo disse esperar alta de 3% a 4% do consumo no Brasil em 2017. Mesmo assim, acredito que vai demorar no mínimo cinco anos para que nós voltemos ao mercado de 2013, opinou. Foi quando a demanda atingiu 28 milhões de toneladas. Em 2016, foi de 18,2 milhões de toneladas.


Nesse cenário, nos é exigida uma disciplina maior. Temos que controlar o caixa, mesmo que apareçam oportunidades, precisamos resistir às tentações de expansão. Também vê pouco espaço na exportação. A Usiminas sofre com sobretaxas nos EUA e investigação na União Europeia. O Reintegra [programa de retorno de resíduo tributário do governo] em 5% melhoraria, mas não solucionaria.


A Usiminas pode também ganhar com rentabilidade. A companhia já enxugou custos, principalmente ao paralisar a área primária de Cubatão (SP), e agora busca eficiência máxima em processos. Ao mesmo tempo, aplicou seis reajustes em menos de um ano e conseguiu, após dois anos, elevar preços para as montadoras. Já fui da área comercial e negociava com o setor, lembra o executivo, com mais de 40 anos de casa. São de três a quatro meses de uma negociação extremamente dura.


A reestruturação financeira da Usiminas, além do acordo da dívida, aumento de capital de R$ 1 bilhão e o potencial dinheiro da Musa, prevê venda de ativos. Souza reafirmou que a controlada Usiminas Mecânica, fabricante de bens de capitais, segue à venda.


Com quase um ano sem propostas de compra, o mercado já acreditava que o desinvestimento havia sido deixado de lado. O negócio segue na prateleira, disse, a cargo do Credit Suisse em encontrar um interessado, que não apareceu no cenário de crise econômica do país. Está claro para nós que a Usiminas Mecânica não faz parte dos nossos negócios estratégicos. Mesmo que nossa situação financeira melhore e os recursos não sejam exatamente necessários, continua à venda. Não ficará em nossa estrutura, garantiu o executivo.


O mercado calcula que o ativo consiga garantir, no máximo – sendo otimista, segundo fonte – R$ 500 milhões à Usiminas.


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