Trem comprado pelo governo paulista só é quitado após aprovação em teste

Superlotação, atrasos e falhas constantes. Esses são
ingredientes conhecidos por qualquer usuário frequente das linhas da TM, na
Grande São Paulo. Enquanto isso, a 110 km da capital paulista, vagões novos, já
pintados com o símbolo da companhia, acumulam poeira e tomam sol e chuva no
pátio da fábrica.

São cerca de 80 vagões (o equivalente a dez trens inteiros).
Eles estão espalhados pelo terreno e galpão da espanhola CAF, a fabricante, na
cidade de Hortolândia -a reportagem sobrevoou o local nesta semana.

O motivo alegado para esse cenário é um gargalo na estrutura
de testes obrigatórios dos novos trens antes de entrarem em circulação na rede
sob a istração do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). São duas as empresas
fornecedoras de novos trens: a CAF e a coreana Hyundai.

Por contrato, cada uma delas tem direito a apenas quatro
espaços de cada vez para testes nos trilhos da estatal. Sendo assim, qualquer
atraso vira um entrave para toda produção. Alckmin chegou a anunciar que os
trens demorariam somente um mês para serem testados.

Desde maio, porém, a espera tem sido de dois meses, em
média. Nesse ritmo, todos os 47 trens (quase 400 vagões) que ainda restam ser
entregues só chegariam à população em 2019, três anos após a previsão inicial.

O governo do Estado diz que, se as fabricantes solucionarem
os defeitos encontrados pelos engenheiros da TM na hora dos testes, a
liberação seria agilizada – cabe à estatal aprovar os trens. Uma solução seria
a ampliação do número de trilhos da TM dedicados aos testes, atualmente entre
as estações Lapa e Presidente Altino. Mas, para a estatal, essa medida
implicaria em novo prejuízo ao já complicado tráfego.

O pagamento pelos novos trens é feito de maneira parcelada.
Parte no início da fabricação (28,5%), outra parcela na saída da fábrica para
testes (29,25%) e uma terceira quando os trens completam os testes (29,25%).

A quarta parte é paga quando eles são aprovados em
simulações na linha em que serão utilizados (10%). O último pagamento ocorre
depois dos últimos testes já com ageiros (3%). Exemplo: um trem pronto para
testes, mas parado na fábrica, já custou ao governo do Estado cerca de R$ 8
milhões.

Após todos os testes, as empresas receberiam ainda mais
cerca de R$ 20 milhões. O governo Alckmin afirma que não há falta de dinheiro
para pagamento dos trens.

No final deste mês, dois trens devem deixar a fase de testes
e liberar espaço para novas composições. Cerca de R$ 20 milhões foram aplicados
em multas às duas empresas devido a atrasos de entrega.

Além do atraso, o Ministério Público investiga falhas de
produção nesses lotes, o que, em tese, atrasaria a liberação dos trens.

Procurada, a CAF não quis comentar o contrato ou os trens
parados em sua fábrica.

A Hyundai diz estar empenhada em cumprir o contrato. Com 260
km de trilhos em operação, a TM transporta em média 2,8 milhões de
ageiros por dia, em seis linhas que ligam São Paulo a outras cidades da
Grande SP.

 

CONTRATOS

 

O contrato com as duas empresas, de quase R$ 2 bilhões, foi
assinado quatro anos atrás. Mas, de um lote de 65 trens, apenas 18 estão em
uso. Todos eles deveriam já estar rodando desde 2016 nas linhas 7-rubi (que
liga a capital a Jundiaí e transporta 450 mil ageiros por dia) e 11-coral
(que corta a zona leste e segue até Mogi das Cruzes, com um total de 724 mil
ageiros diários).

O primeiro tropeço do contrato foi a falência da Iesa, uma
das empresas que formava consórcio com a Hyundai. A coreana, então, assumiu o
compromisso de entrega de 30 trens, mas teve que refazer todo seu planejamento.

A inauguração da fábrica onde seriam montados os vagões só
ocorreu em março do ano ado. O governo chegou a divulgar que a Hyundai
entregaria os 30 trens até agosto de 2016, mas o prazo não foi cumprido. Até
agora apenas três trens deste lote foram entregues. Já a CAF demorou para
aprovar os trens fabricados nos testes exigidos pela TM.

Segundo o secretário estadual de Transportes Metropolitanos,
Clodoaldo Pelissioni, o primeiro trem da espanhola demorou 13 meses para obter
os certificados de todos os testes da estatal. Por isso, o governo paulista só
colocou o primeiro trem destes contratos para rodar em julho do ano ado, um
mês após o prazo contratual de entrega de todo o lote.

A expectativa do governo era de que, após o primeiro teste,
as aprovações seguintes seriam mais fáceis. Nessa época, o governador paulista
anunciou que a TM inauguraria, em média, quatro trens novos por mês.
Prorrogando a promessa inicial, ele disse que até o fim de 2017 as 65
composições estariam funcionando. Mas o ritmo está abaixo do esperado.

Alckmin tem pressa, já que deixará o cargo em abril para a
disputa das eleições do ano que vem. Ele trava uma disputa interna no PSDB com
o prefeito João Doria para a escolha do candidato do partido ao Palácio do
Planalto.

Fonte: Folhapress

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*



18