Clima favorável, alto investimento em tecnologia e controle
de pragas são alguns dos fatores que contribuíram para que a safra brasileira
de soja 2016/2017 registrasse um aumento de 19,4% em relação à anterior. A
produção do país deve atingir a marca de 114 milhões de toneladas, de acordo
com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). É difícil, porém, que isso
se repita na próxima, por razões climáticas.
A área plantada no país aumentou 650 mil hectares (2%) na
safra atual, ando de 33,25 milhões de hectares, na safra 2015/2016, para
33,91 milhões de hectares. A produtividade também aumentou — são 3.364 de
quilos por hectare (kg/ha), que representa uma alta de 17% com relação à média
de produtividade dos últimos 10 anos de safras, de 2.886 kg/ha.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, atrás
dos Estados Unidos, e está em primeiro lugar em exportações. “Há tempos não se
produzia mais de 50 sacas por hectare de média”, relata o engenheiro agrônomo
Marcos da Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja
(Aprosoja Brasil). Nem tudo é comemoração, porém: câmbio e cotação do produto
já foram mais favoráveis para o produtor.
A cotação média do dólar nos anos de 2016 e 2017 ou de
R$ 3,76 para R$ 3,15, queda de 16%, ocasionando menores margens de lucro, ao
mesmo tempo em que os custos de produção estão com tendência de alta. As
exportações do complexo de soja entre os meses de janeiro e julho de 2017
representaram cerca de US$ 23 bilhões, aumento de 27% com relação ao mesmo
período de 2016, que atingiu US$ 18 bilhões.
A comercialização da safra 2017/2018 tem se mostrado tímida
se comparada à média das últimas safras no mesmo período. Os produtores do Mato
Grosso, por exemplo, comercializaram cerca de 22,5% de sua safra, enquanto a
média de negócios, nesse mesmo período, para as últimas cinco safras foi de
36%. “Há muita cautela”, observa Rosa.
A Aprosoja, que reúne 15 associações estaduais,
representando 96% da área cultivada da oleaginosa no Brasil, espera que a
balança comercial da soja para a safra 2017/2018 apresente uma leve alta,
quando comparada ao ano de 2017, e que seja exportado um volume 2,95% maior do
produto em grãos. “Espera-se exportar algo em torno de US$ 24 bilhões a US$
24,5 bilhões, valor cerca de 4% maior se comparado ao ano de 2017”, analisa
Marcos da Rosa.
O plantio da safra 2017/18 começou em meados de setembro.
Até a semana ada, a soja tinha sido plantada em 57% da área prevista já
semeada no país, um pouco menos do que nessa época no ano ado. Rosa
acredita que, nesta safra, o cenário será de chuvas abaixo da média e
temperaturas elevadas, prejudicando o desenvolvimento da soja. “Mesmo com uma
previsão de aumento de área de 4%, a produção deve cair 5%, para 107 milhões de
toneladas”, alerta.
Semana agitada
A expansão no plantio de soja na última semana foi
ocasionada pela performance da região Centro-Oeste, onde o plantio aumentou 17
pontos percentuais em uma semana. A irregularidade de chuvas no mês ado
acabou causando problemas para produtores que se preparavam para concluir a
semeadura. “Choveu muito por aqui e ninguém conseguiu plantar a soja. Agora
está todo mundo correndo atrás do prejuízo”, explica o produtor Wiebe Chossen,
da Fazenda Dois Pinheiros, em Unaí (MG).
Na propriedade, localizada na Chapada do Catingueiro,
Chossen destina 250 hectares ao cultivo de soja em área sem irrigação, o
sequeiro. O milho é a alternativa para o período de safrinha. Segundo o
agricultor, a janela para o plantio da soja na região ficou mais estreita por
causa das fortes chuvas que caíram em Unaí no início do mês, se intensificaram
na semana ada e prejudicaram o trabalho na lavoura. Com a estiagem, o sojicultor
usou uma nova semeadeira, que proporciona maior velocidade de plantio. “Dá para
cobrir 65 hectares em um dia. Economizamos de 15 a 20 dias no plantio”, atestou
James Chossen, filho de Wiebe, que opera a máquina.
De acordo com o relatório Perspectivas Agrícolas 2017/2026
da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em dez anos,
o Brasil deve se tornar o maior produtor mundial de soja, ultraando os Estados
Unidos. A produção de soja no Brasil deve crescer cerca de 2,6%, em média, por
ano, enquanto a produção mundial crescerá em um ritmo mais lento, a uma taxa
anual de 1,9%. Alvadi Balbinot, da Embrapa Soja, é mais otimista. “É possível
que o país atinja essa posição bem antes disso”, diz.
Holandeses em Minas
Wiebe Chossen nasceu em Averest, na Holanda, em 1918, e
migrou para o Brasil quando com apenas cinco anos — foram sete dias em um navio
cargueiro. A família, de 11 filhos, foi para Telêmaco Borba (PR), onde já
existia uma colônia de holandeses. Acostumado à vida de pequeno produtor de
leite, o patriarca ou a vender o produto aos funcionários da fábrica de
celulose. Em 1972, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), comprou 100 hectares para a lavoura. Mais de uma década
depois, oito famílias compraram dois mil hectares de terras em Unaí (MG). A
partir de 1984, com a vinda de outras famílias diretamente da Holanda, uma nova
colônia surgiu na região, denominada Brasolândia. Tem hoje 120 pessoas e ocupa
uma área de 3.000 hectares. Está localizada a 60 km da sede do município e a
125 km de Brasília.
Grão dourado
A cadeia da soja no
país
Consumo interno______________47,281 milhões de toneladas
Exportação do grão____________51,6 milhões de toneladas (US$
19,3 bilhões)
Exportação de farelo___________14,4 milhões de toneladas
(US$ 5,2 bilhões)
Exportação de óleo____________1,2 milhões de toneladas (US$
0,9 bilhões)
Valor total___________________U$ 25,4 bilhões
Produtores no país____________240 mil
Postos de trabalho____________15 milhões (diretos e
indiretos)
Faturamento anual____________US$ 70 bilhões
A cadeia da soja no
mundo
Produção________________351,31 milhões de toneladas
Área plantada____________120,958 milhões de hectares
Maiores produtores
globais
1º – Estados Unidos
Produção________________117 milhões de toneladas
Área plantada____________33,909 milhões de hectares
Produtividade____________3.501 kg/ha
2º – Brasil
Produção________________114 milhões de toneladas
Área plantada____________33,909 milhões de hectares
Produtividade____________3.364 kg/ha
Maiores produtores no
Brasil
1º – Mato Grosso_________________30,51 milhões de toneladas
2º – Paraná_____________________19,53 milhões de toneladas
3º – Rio Grande do Sul____________18,71 milhões de toneladas
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