Suzano quer trazer Fibria de volta à mesa de negociação

A Suzano Papel e Celulose está
tentando retomar as conversas com um dos acionistas controladores da Fibria, o
grupo Votorantim, sobre a tão aguardada fusão entre as companhias. Depois de
abandonar a mesa de negociação no fim do ano ado, a empresa da família
Feffer voltou a abordar a concorrente e, pela primeira vez, ontem ambas
itiram formalmente algum movimento relacionado à combinação de seus ativos.

As duas maiores companhias de celulose
de eucalipto do mundo já demonstraram publicamente o interesse em uma operação
de união de seus ativos. Mas, após algumas rodadas de conversas em 2017, não
chegaram a um modelo que agrada os dois lados. O desejo expresso recentemente
pela Suzano à Votorantim, de estabelecer essas tratativas, é alimentado por
sinergias estimadas em mais de R$ 10 bilhões que poderiam obter com o negócio.

Assim como esse valor salta aos olhos,
também são relevantes os desafios à concretização do negócio, que cria uma
gigante do setor de celulose e papel. O destino dos ativos de papel da Suzano,
a participação dos atuais controladores na nova empresa, questões relacionadas
a governança da nova empresa e uma desconfiança histórica entre as famílias
controladoras terão de ser superados para que a provável fusão se concretize.

O espaço para as conversas está na
arbitragem entre o valor que a família Feffer pode ter na companhia final e a
família Ermírio de Moraes. Os Feffer – liderados por David Feffer – têm uma
concentração maior no capital da Suzano do que a Votorantim na Fibria.

No segundo semestre do ano ado,
com a valorização decorrente da ida da Suzano para o Novo Mercado, essa balança
estava mais favorável à família Feffer do que em qualquer outro período,
conforme o Valor apurou. Foi a partir daí que os diálogos mais efetivos
começaram a ocorrer.

Naquele momento, a indústria de
celulose se tornava palco de outro movimento de consolidação. Em setembro, a
Eldorado Brasil, da J&F Investimentos, dos irmãos Batista, foi vendida para
a Paper Excellence, da mesma família que é dona da Asia Pulp and Paper (APP),
de capital chinês e indonésio. A própria Fibria chegou a entrar na disputa,
sem, contudo, formalizar proposta de compra, e a Suzano declarou interesse, mas
manteve-se à distância em todo o processo de venda.

Na ocasião, foi unânime, entre
analistas de investimentos, a avaliação de que a venda da Eldorado para um
estrangeiro poderia ser o gatilho de novas conversas entre Suzano e Fibria – o
que, na realidade, já estavam se desenhando, segundo apurou o Valor.

A unificação de classes de ações da
Suzano Papel – aprovada no fim de julho, com estreia no Novo Mercado no início
de novembro – trouxe maior clareza a respeito do valor da posição dos
controladores. Nos três últimos meses de 2017, considerando preços de mercado,
sem prêmio para nenhuma das companhias, essa distribuição daria aos Feffer uma
posição preponderante em relação à Votorantim na nova empresa combinada. Ainda
que a operação não garantisse a nenhum dos dois grupos familiares uma condição
majoritária.

Em percentuais, os donos da Suzano
Papel poderiam ficar com 26,5% do negócio resultante, enquanto a holding da
família Moraes não aria de 16,5%. Os Feffer somam 56% do capital da Suzano.
Logo após a estreia no Novo Mercado, em novembro, o valor da participação da
família estava pouco acima de R$ 13 bilhões em bolsa. A Suzano chegou a valer
R$ 23,5 bilhões na B3. A Fibria, naquele momento, oscilava entre R$ 28 bilhões e
R$ 29 bilhões, aproximadamente. A participação da Votorantim, de 29% do
negócio, não chegava a R$ 8,5 bilhões.

Encontrar o equilíbrio dessa
desproporcionalidade entre os Feffer e os Ermírio de Moraes era a oportunidade.
Quanto mais próxima estiverem as fatias, menos espaços para negociação. No fim
do ano ado, de nenhum dos lados as conversas alcançaram avanço suficiente
para envolver os acionistas. Os diálogos foram sempre entre representantes de
Suzano e Votorantim (Fibria). No início de dezembro, a Suzano concluiu que não
era o momento para seguir adiante, pois acreditava que tinha muito valor na
companhia não reconhecido pelo mercado, o que desequilibrava a combinação.

De lá para cá, a balança só pendeu a
favor da Votorantim. As mesmas contas, atualizadas pelo preço de mercado,
dariam hoje aos Feffer 24,5% da companhia resultante, enquanto à Votorantim
continua em 16,5%.

O valor de mercado da Suzano subiu
para R$ 24,5 bilhões, mas o de Fibria subiu proporcionalmente mais, a R$ 32,6
bilhões. Recentemente, em teleconferência sobre resultados trimestrais, o
presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou que as ações ainda não refletem o
real valor do negócio.

Um ponto sensível nas negociações é a
visão de governança que cada uma das famílias tem sobre gestão do negócio

Um ponto sensível nas negociações é a
diferença de cultura entre os controladores das companhias e o papel que as
famílias Feffer e Ermírio de Moraes acabam exercendo na gestão do negócio,
segundo fontes do setor. Enquanto na Fibria prevalece o modelo de corporação,
na Suzano há maior interferência dos Feffer, que estão na presidência do
conselho de istração.

A presença dos controladores na gestão
foi uma das razões que travaram o diálogo para uma potencial combinação dos
negócios que começou a ser aventada no início desta década, lembrou uma fonte
da indústria.

Naquele momento, a Suzano não abria
mão de participar da gestão, mas há sinais públicos de que o grupo se tornou
mais flexível. No fim de 2016, o presidente da empresa, Walter Schalka,
surpreendeu analistas de investimento ao afirmar, em apresentação anual, que a
família Feffer aceitaria discutir um acordo de controle compartilhado em caso
de consolidação da indústria de celulose.

Na holding, David Feffer, Daniel
Feffer, Jorge Feffer e Ruben Feffer am um novo acordo de acionistas no
ano ado, e, em novembro, a Suzano migrou para o Novo Mercado após converter
todas as suas ações para ON. David, por exemplo, ou um tempo na
Universidade de Harvard, EUA, fazendo um curso voltado a gestores de negócios.

Segundo fonte do setor, há
“questões relacionadas à governança” que separam as companhias. Essa
diferença aparece no tom das respostas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
acerca da potencial retomada das conversas sobre fusão. Enquanto Fibria
destacou o fato de não haver negociações em andamento, a companhia dos Feffer
informou que “recentemente foram estabelecidas discussões muito
preliminares com representantes dos controladores da Fibria”.

A empresa controlada por Votorantim,
junto com o BNDES, declarou que questionou seus acionistas controladores e eles
informaram por escrito: ‘Fomos procurados por representantes da Suzano Papel e
Celulose com o objetivo de discutir alternativas estratégicas”. Mas
afirmou “desconhecer qualquer negociação envolvendo o assunto e as
empresas indicadas na reportagem, referindo-se a matéria do jornal “O
Estado de S.Paulo” na sexta-feira, a qual informa que as companhias teriam
retomado as conversas de fusão.

A Suzano afirmou que
“permanentemente avalia oportunidades que possam gerar valor para os seus
acionistas e para o seu negócio e, nesse sentido, recentemente foram
estabelecidas discussões muito preliminares com representantes dos
controladores da Fibria sobre possível negócio envolvendo as empresas, sem
nenhum formato ou estrutura definida”. O Valor apurou que a diferença no
teor das respostas gerou mal-estar dos dois lados.

Outro ponto crítico da combinação dos
ativos é o negócio de papel da Suzano. A Fibria não contempla em seu
posicionamento estratégico uma volta a esse mercado. Uma das empresas que está
em sua origem, a V, tinha presença nesse segmento. Por isso, analistas
aram a trabalhar com a possibilidade de uma cisão desses ativos em outra
empresa. No modelo de fusão originalmente defendido pela Suzano, e que foi
reapresentado no ano ado, os ativos de papel fariam parte da operação.

Com a complexidade da combinação de
ativos e com as diferenças de visões das duas famílias não se deve esperar por
um desfecho do negócio no curto prazo. O Valor apurou que, se a retomada ganhar
fôlego – como se verificou no semestre ado -, a de um acordo só
deve ocorrer no fim do ano ou no começo de 2019.

Pessoas que acompanham há anos o setor
de celulose e papel, bem como os controladores das duas empresas, dizem que há
uma desconfiança histórica recíproca entre as famílias, para além da rivalidade
natural dos negócios.

Trata-se de uma das transações mais
esperadas, pela obviedade de ganho às empresas, mas sobre o qual os
investidores mantém considerável ceticismo. O fato de o Brasil ter se tornado
um alvo claro de consolidação internacional no segmento pode, na visão de
investidores, levar as famílias a encontrar uma solução para as divergências
históricas.

Procurados, o grupo Votorantim e Suzano
informaram que não comentariam o assunto.

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