Menos de
três anos depois da tragédia da Samarco, em Mariana (MG), e da pressão de queda
dos preços internacionais do minério de ferro, a mineradora Vale voltou a ter
grau de investimento pelas três grandes agências de classificação de risco. A
companhia é a primeira empresa nacional a obter os três selos – das agências
Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s – depois de o Brasil ter perdido o grau
de investimento e da piora da crise no País.
Enquanto a
reconquista do selo de bom pagador pelo Brasil ainda não está no radar, a Vale
recuperou a distinção da “trinca” de agências de classificação de risco na
segunda-feira, após a Moody’s ter elevado a avaliação da empresa. Entre as
vantagens da obtenção do grau de investimento está a captação de recursos a
taxas de juros mais baixas.
A avaliação
da Vale mudou pouco mais de um ano depois da chegada de Fabio Schvartsman,
executivo escolhido para presidir a companhia e torná-la mais previsível aos
olhos do mercado financeiro.
A confiança
renovada na empresa é percebida nas ações da companhia. No acumulado dos
últimos 12 meses a ação da mineradora registra alta de quase 80%. Neste ano, a
valorização chega perto de 30%. Nesta terça-feira, 24, os papéis ordinários da
Vale subiram 3,45%, para R$ 51,31.
Perfil financeiro
A Moody’s,
que havia retirado o grau de investimento da Vale no início de 2016,
justificou, ao devolver a avaliação, que a empresa modificou o perfil de
produção e conseguiu reduzir dívida.
“A conclusão
do projeto S11D possibilitou um aumento substancial na produção de baixo custo,
enquanto o aumento do foco na mistura de minério de ferro de melhor qualidade e
maiores prêmios deram e à lucratividade”, disse a agência, em comunicado.
Desde a
chegada de Schvartsman à Vale, a companhia ampliou a meta de redução de
endividamento, caminho que já vinha sendo trilhada na gestão anterior, de
Murilo Ferreira. Ao fim do primeiro trimestre, a dívida líquida da Vale somava
US$ 14,9 bilhões, uma redução de 35% desde março de 2017.
A intenção é
encerrar o ano com endividamento líquido de US$ 10 bilhões. A redução da dívida
foi auxiliada. Agora, o movimento seguirá adiante com geração de caixa, diz a
companhia.
A decisão da
Moody’s levou também em conta o acordo assinado mês ado entre Vale, a BHP
Billiton (sua sócia na Samarco) e as autoridades brasileiras para diminuir os
danos causados pelo rompimento da barragem, que incluíram não apenas impactos
ambientais, mas também resultaram na morte de 19 pessoas.
No fim de
2017, outro movimento garantiu à companhia maior visibilidade do mercado: a
migração das ações ao Novo Mercado, segmento de mais elevadas práticas de
governança corporativa da B3.
No fim do
ano ado, o diretor executivo de finanças e relações com investidores da
Vale, Luciano Siani, havia dito que a recuperação do grau de investimento era
uma meta da companhia. Com esse selo, a tendência é de custos mais baixos para
captação de recursos.
O BTG
Pactual, em relatório distribuído nesta terça-feira, 24, ao mercado, reiterou
sua recomendação de compra para a ação da Vale, a despeito do bom desempenho
recente do papel.
O banco de
investimento destaca o prêmio de qualidade do minério de ferro da companhia,
além de um bom momento da empresa para ganhos, assim como sua maior
previsibilidade de gestão. “Com uma impressionante alocação de capital e com um
jogo claro para os próximos anos, acreditamos que a história de ação foi
materialmente arriscada”, diz o BTG.
Balanço
A Vale
divulga nesta quarta-feira, 25, seu resultado referente ao segundo trimestre.
Com um impulso do prêmio de qualidade de seu minério de ferro, a Vale deverá
apresentar um desempenho financeiro robusto no período.
A geração de
caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e
amortização) ajustado deverá crescer 43% na relação anual para US$ 3,9 bilhões,
conforme a média das projeções de cinco instituições financeiras consultadas
pelo Prévias Broadcast (BB-BI, BTG Pactual, Itaú BBA, Morgan Stanley e Safra).
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