A Invepar, operadora do aeroporto de Guarulhos e do Metrô Rio, não vislumbra ter um novo controlador no curto prazo. Com a saída da OAS, o plano da companhia é promover uma reestruturação dos ativos, renegociar dívidas e fazer uma injeção de capital dos acionistas – um novo sócio poderá entrar, mas apenas para diluir a participação dos demais, afirmam fontes ligadas à empresa.
O grupo é controlado por quatro sócios, com fatias de aproximadamente 25% cada: os fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil); Funcef (da Caixa); Petros (Petrobras); e o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Yosemite, que reúne os credores da ex-acionista OAS. A empreiteira transferiu sua fatia na empresa em maio deste ano para quitar parte de sua dívida bilionária. A operação ocorreu após uma negociação intensa com os credores, que durou mais de dois anos.
Ao longo desse período, a Invepar foi alvo de negociações com possíveis compradores, como o fundo canadense Brookfield, o fundo soberano Mubadala e a gestora brasileira IG4. Nenhuma das propostas foi adiante. Um dos principais entraves, segundo pessoas a par das conversas, foram os preços oferecidos, considerados baixos pelos fundos de pensão.
A IG4 mantém seu interesse em entrar na Invepar. A gestora prepara uma oferta de injeção de capital de R$ 1,7 bilhão na empresa, que ainda não foi apresentada aos acionistas.
No entanto, após diversas tentativas frustradas de vender o controle da empresa, os sócios não trabalham com a perspectiva de uma alienação neste momento.
Procurado, o Previ afirmou que não está em busca de um controlador para a Invepar e disse que não tem conhecimento de nenhuma proposta de aquisição, seja da IG4 ou de outro interessado. Funcef e Petros também disseram desconhecer qualquer oferta.
Atualmente, a principal preocupação da Invepar é quitar uma dívida de quase R$ 1 bilhão com o Mubadala, que vence em dois anos e tem um custo financeiro alto, de IPCA mais 12%. Além disso, é preciso reequilibrar a situação financeira do grupo, que acumula prejuízos. No primeiro semestre de 2019, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 537,8 milhões, valor 90% maior que no ano anterior.
O plano é trazer mais recursos para dentro da empresa, o que deverá ocorrer com injeção dos próprios acionistas. Esse aumento poderia ser feito com a conversão das debêntures detidas pelos fundos de pensão em participação – ou seja, os sócios transformariam a dívida que têm a receber em uma fatia maior na companhia.
O problema é que os fundos, por regras internas, não podem ter uma participação acima de 25% no negócio. Como a dívida com Previ e Funcef é maior do que com a Petros, fazer a conversão provocaria um desequilíbrio. A solução para isso seria trazer mais recursos de terceiros, que diluiriam a participação dos fundos e permitiram a conversão das debêntures e injeções adicionais dos fundos de pensão, sem que houvesse descumprimento das normas.
Para isso, há duas possibilidades em estudo: um acionista novo entrar no negócio, mas sem se tornar controlador, ou a captação de mais recursos por meio do FIP Yosemite, dos ex-credores da OAS.
Outra medida para trazer alívio ao caixa é um plano de renegociação com os credores das concessionárias da Invepar. As conversas têm sido possíveis devido à queda da taxa de juros no país, afirma uma pessoa envolvida nas conversas.
A companhia tem ainda um projeto de reestruturação de ativos. O grupo está presente em onze concessões, mas anunciou a intenção de se desfazer de duas delas.
A concessão da Cart, responsável pelo corredor rodoviário Raposo Tavares, em São Paulo, foi colocada à venda. A expectativa é que os recursos sejam usados para pagar parte da dívida com o Mubadala. A companhia também deu início ao pedido de devolução da Via040, uma das concessões deficitárias leiloadas durante o governo de Dilma Rousseff (PT). O processo, no entanto, deverá demorar entre dois e quatro anos até que a relicitação esteja pronta.
A meta da diretoria é concluir o processo de reestruturação até meados de 2020. A ideia é que a companhia possa aproveitar a janela de leilões rodoviários que deverá ocorrer nos próximos três anos, em que vários contratos em curso serão relicitados e diversos governos farão novas concessões.
O prazo remanescente médio das concessões da Invepar é de 20 anos. A primeira delas a vencer, porém, é uma das mais importantes: o aeroporto de Guarulhos, cujo contrato tem 13 anos restantes.
A avaliação da empresa é que o ciclo de oportunidades que ocorrerá nos próximos anos vai demorar para se repetir no país. O objetivo da Invepar seria concorrer em lotes de médio porte, que não exijam lances tão competitivos, mas que possam garantir a continuidade do grupo.
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