Após registrar queda de 75% do movimento, para uma média de 150 mil ageiros/dia, a Supervia, concessionária de transporte ferroviário do Rio, crê que conseguirá manter as operações nessas condições por no máximo 45 dias. Para evitar paralisação do serviço, a companhia, controlada indiretamente pela Mitsui, tem atuado em um conjunto de medidas.
A crise é bastante séria. Não sabemos se isso vai durar um mês, dois meses ou cinco meses. O fato é que não temos fôlego para ar tudo isso, afirmou o presidente da Supervia, Antônio Carlos Sanches, ao Valor. A gente vai no máximo 45 dias, até metade de maio, completou.
Uma das ações em curso pela Supervia é a solicitação ao BNDES de suspensão por até seis meses do pagamento de empréstimos (standstill), iniciativa anunciada pelo banco de fomento na última semana. Segundo Sanches, a medida aliviaria em 1/5 o caixa da companhia. Só esta medida do BNDES não resolve, precisaríamos de um fôlego maior. Nós compramos vários insumos para manutenção e tivemos um custo adicional, com essa questão da desinfecção dos trens, que estamos fazendo todos os dias.
A Supervia também tenta obter mais crédito com o banco estatal, mas isso ainda depende da criação de novas linhas para capital de giro. O assunto está sendo analisado pelo BNDES.
Com o governo do Rio, a Supervia negocia o pagamento de ivos antigos e do subsídio das gratuidades nas agens, o que contribuiria com R$ 125 milhões. Os ivos antigos são em geral ivos trabalhistas da época que era estatal. Normalmente, quando há decisão judicial, a Supervia faz o pagamento e precisa ser ressarcida pelo governo estadual.
Também está sendo discutido com o governo fluminense o diferimento do ICMS sobre o consumo de energia, ou seja, permitindo à concessionária ferroviária recolher o tributo mais à frente, quando a operação voltar ao normal. O ICMS representa em torno de um terço da conta de energia da empresa. A Supervia prevê que os temas de energia relacionados ao governo do Rio permitam um alívio de caixa de R$ 195 milhões.
Em outra frente, a companhia negocia diretamente com a Cemig, fornecedora de energia por meio de contrato no mercado livre, a postergação do pagamento da conta. Estamos buscando todas as alternativas que achamos possíveis porque sabemos que, em um primeiro momento, o importante que o governo fez foi a questão do isolamento social, para preservar a vida das pessoas. Agora as empresas, que vêm na sequência, precisam de socorro. É como se as empresas precisassem ficar um tempo no respirador para sobreviver a essa crise, afirmou Sanches.
O executivo disse esperar que algumas das medidas propostas tenham definição nesta semana. Em paralelo, a companhia está fazendo o dever de casa. Segundo Sanches, estão sendo feitos ajustes internos para reduzir custos. Mas esse esforço, explicou, é limitado, pois a empresa não pode deixar de prestar o serviço de transporte.
Outra alternativa tem sido trabalhada pela Guarana Urban Mobility (Gumi), consórcio liderado pela Mitsui e que possui 88,67% da Supervia. A Gumi mantém conversas com o Banco Mundial para obter um possível apoio financeiro.
Apesar do momento crítico, o presidente da Supervia não acredita por enquanto ser necessário alteração estrutural no contrato de concessão da empresa. O desequilíbrio atual do contrato, contou, vai demandar reequilíbrio extraordinário, mas não impacta nos assuntos que são discutidos entre Supervia e a agência reguladora estadual de transportes (Agetransp). Segundo ele, a empresa está mantendo contato direto com a autarquia e a secretaria de transportes do governo do Rio de Janeiro.
A pandemia do novo coronavírus também afetou a solução para os 40 trens fabricados na China e que haviam apresentado problema. Essas composições sofreram reparo e estão operando com uma solução intermediária.
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