Análise: Vale lucra R$ 984 milhões no 1º trimestre e sinaliza redução de custos no ano

O lucro de R$ 984,3 milhões da Vale no primeiro trimestre de 2020, anunciado na noite de terça-feira, significou uma reversão em relação ao prejuízo de R$ 6,4 bilhões registrado pela mineradora em igual período do ano ado, resultado que foi influenciado, na ocasião, pelos efeitos do rompimento da barragem da Brumadinho, em janeiro de 2019.

ado mais de um ano da tragédia, a Vale está focada em manter suas operações e preservar a segurança de seus funcionários em meio à pandemia. A empresa também tem adotado uma série de ações de combate ao novo coronavírus e seus efeitos, com um apoio total de R$ 500 milhões, dos quais R$ 353 milhões foram desembolsados até o momento.

Entre janeiro e março, a mineradora registrou receita líquida de vendas de R$ 31,2 bilhões, estável em relação ao primeiro trimestre do ano ado. Na comparação com o quatro trimestre, houve uma piora de quase R$ 10 bilhões na receita, resultante de menores volumes de vendas nos negócios de minério de ferro, pelotas, níquel e carvão.

O primeiro trimestre é sempre uma época chuvosa nas regiões onde a Vale tem as principais operações no país: Minas Gerais, Espírito Santo e Pará. E este ano as chuvas foram fortes.

Enquanto isso, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), número que o mercado gosta de olhar, atingiu R$ 12,9 bilhões. No primeiro trimestre de 2019, o Ebitda da mineradora havia sido negativo em R$ 2,79 bilhões, também pelos efeitos decorrentes de Brumadinho.

Em relação ao quarto trimestre, sazonalmente um trimestre forte para a Vale, o Ebitda do primeiro trimestre foi menor em R$ 1,6 bilhão, em função de volumes menores, da parada parcial da principal mina da empresa em MG (Brucutu) e de manutenções, além de menores preços realizados no cobre e no níquel.

A empresa informou que esses fatores foram parcialmente compensados pelo efeito positivo da desvalorização do real frente ao dólar e por menores despesas incorridas e provisões relacionadas a Brumadinho.

A Vale é uma empresa que tem a receita dolarizada e grande parte dos custos em reais. A alta do dólar tem, por outro lado, impactos na dívida denominada em reais.

A Vale informou, no comunicado divulgado ao mercado, que desde 31 de dezembro de 2019 não houve provisões adicionais para Brumadinho e que o valor agregado das provisões está hoje abaixo de US$ 4 bilhões, devido, principalmente, aos pagamentos efetuados no trimestre, no valor de US$ 217 milhões, e ao impacto da desvalorização do real.

Ao fim do primeiro trimestre, a dívida líquida da companhia permaneceu relativamente estável em US$ 4,8 bilhões.

Analistas de mineração ouvidos pelo Valor consideraram que a empresa sinalizou com uma previsão mais positiva em relação aos custos ao longo do ano, seja pela diluição de custos fixos por meio de maior volume de vendas, seja pelo preço do frete mais baixo.

“Os resultados vieram em linha com as previsões e espero uma reação neutra do mercado amanhã”, disse um analista.

O preço de venda realizado pela Vale, no primeiro trimestre, para o minério de ferro foi de US$ 83,8 por tonelada, praticamente estável em relação ao quatro trimestre de 2019.

Os preços do minério de ferro têm se mantido relativamente estáveis desde que a crise do coronavírus se aprofundou. É um cenário diferente do petróleo, que caiu muito com a crise.

A explicação está no fato de que o minério de ferro tem uma oferta restrita e a China, o principal cliente, está retomando as atividades depois de ter sido afetada pela covid-19.

Um dado que chamou a atenção no balanço da Vale foi a informação de que a mineradora pretende eliminar ou substituir 25 navios da frota que atendem a companhia e pertencem  a terceiros. Esses navios são petroleiros que foram transformados em mineraleiros em estaleiros asiáticos. A Vale disse que vai rescindir ou alterar contratos com armadores donos desses navios.

Em fevereiro de 2020, um navio construído em 2016 de propriedade e operado pela companhia sul-coreana Polaris Shipping sofreu avaria e encalhou após deixar o terminal marítimo de Ponta da Madeira, no Estado do Maranhão, carregado com cerca de 295 mil toneladas de minério de ferro produzido pela Vale.

Um analista disse não acreditar que a medida terá impacto relevante nos custos dos fretes marítimos do minério de ferro transportado entre o Brasil e a China. No primeiro trimestre, o custo do frete para a Vale foi de US$ 17,1 por tonelada. A expectativa da empresa é que esse custo caía em cerca de US$ 3 por tonelada no segundo trimestre do ano.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/04/28/analise-vale-lucra-r-984-milhoes-no-1o-trimestre-e-sinaliza-reducao-de-custos-no-ano.ghtml

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