As afirmações recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para que quarentenas fossem flexibilizadas não parecem ter levado contingente significativo de trabalhadores às ruas, apontam secretarias de transporte. A manutenção da baixa demanda diz respeito, sobretudo, a veículos sobre trilhos, enquanto para ônibus há alguns relatos de aumento no fluxo, o que, segundo o setor, pode ter relação com o fluxo de trabalhadores informais.
Na cidade de São Paulo, o número de ageiros que embarcam no metrô está 82% a 83% menor, segundo o secretário dos transportes metropolitanos, Alexandre Baldy. Em 2019, o Metrô transportou 3,7 milhões de usuários, na média de dias úteis.
Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (TM), por onde circulam, em média, três milhões de ageiros por dia, a redução está entre 76% e 77%. Esse número já chegou a 81%, mas, após pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional no último dia 24, quando pediu a “volta à normalidade”, algumas linhas registraram aumento no fluxo. É o caso da 7-rubi (Luz-Jundiaí), que observou incremento de 12% no dia 25, ante o dia anterior, e da 10-turquesa (Brás-Rio Grande da Serra), com alta foi de 17%. “Queremos transportar as pessoas que cumprem atividades essenciais, mas com a segurança de ter o transporte e seguindo medidas de saúde recomendadas pelo Ministério”, afirma Baldy.
Fora dos trilhos, as ruas seguem vazias. O índice de congestionamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que monitora 868 quilômetros de vias, foi a zero em 23 de março e assim permanecia até pelo menos as 16h de ontem. Nos ônibus, os embarques estavam 77% abaixo da média diária, de 9 milhões de pessoas, até sexta-feira.
Valdevan Noventa, presidente do sindicato de motoristas (Sindmotoristas), diz que, apesar da redução inicial, é possível observar aumento no fluxo nos últimos dias. “Tanto que estão aumentando a frota”, afirmou. A SPTrans coloca hoje mais 50 ônibus em operação, ampliando a frota para 41,4% de um dia útil, quando circulam 13 mil veículos.
Na capital fluminense, o movimento no metrô estava cerca de 85% abaixo do normal, mesmo patamar da segunda-feira, segundo a MetrôRio. A média de ageiros em um dia útil normal é de 880 mil. No sistema de trens, a Supervia informou que a queda de 70,8% a 74,1% no período de 23 a 27 de março. Na segunda-feira, a redução foi de 69,2% – em um dia normal são cerca de 605 mil usuários.
No sistema de ônibus, empresas apresentaram melhora tímida no número de ageiros transportados no fim de semana e na segunda-feira, diz Armando Guerra Júnior, presidente da entidade do setor (Fetranspor). Para ele, é resultado do “desespero financeiro” de parte dos trabalhadores, e não do chamado de Bolsonaro. “Quem depende de trabalhos informais, de vendas nas ruas, precisa sair de casa e buscar alguma renda.”
Segundo ele, houve redução de 71% nos ageiros transportados no município na semana ada, ante uma semana típica. No fim de semana, a queda foi de 68,6%. A CCR Barcas, do sistema aquaviário Rio-Niterói, informou redução de cerca de 75% na demanda em relação à média.
Ao Valor, o secretário de transporte do Distrito Federal, Valter Casimiro, disse que o transporte coletivo continua com 20% a 25% dos 600 mil ageiros que usam o serviço em dias normais. Ontem (31), um dia após Bolsonaro visitar cidades-satélites do DF, houve ligeira alta no número de os diários registrados. O número subiu de 312 mil na segunda-feira, do dia 23 de março, para 331, ontem (31). Nas duas segundas-feiras anteriores (9 e 16 de março), os os diários vinham caindo de forma expressiva (1,261 milhão e 898 mil, respectivamente).
Em Belo Horizonte, houve pequeno aumento no número de ageiros de ônibus na segunda-feira, ante os dias anteriores. Segundo a BHTrans, 337,6 mil circularam na segunda. Entre terça e sexta-feira da semana ada, foram de 303,2 mil a 318,8 mil. Na segunda da semana ada eram 364,5 mil pessoas e, em dias normais, são 1,2 milhão pessoas por dia.
A quantidade de carros na capital mineira também é menor. Nos pontos monitorados pela BHTrans, 252,5 mil veículos circularam em média por dia na semana de 8 a 14 de março. Na semana ada, foram 82,5 mil.
Já na região metropolitana do Recife, a circulação de ageiros nos ônibus está 74% menor, na comparação com o ano ado, segundo a Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. Em dias normais, 1,8 milhão de pessoas usam o transporte.
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