Embora seja um dos setores menos afetados pela pandemia do coronavírus até agora, o agronegócio não sairá ileso da crise. Em Mato Grosso, a arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da atividade dentro da porteira caiu 47,5% nos dez primeiros dias de abril ante o mesmo período de março, quando a economia vivia tempos de normalidade.
A queda de R$ 7 milhões no pagamento do tributo foi puxada pela redução nas vendas interestaduais de soja e gado, reflexo da pandemia, de acordo com o governo estadual. As exportações são isentas do imposto.
No médio prazo, as previsões são pessimistas. O governo de Mato Grosso cortou a estimativa para arrecadação de ICMS da atividade agropecuária em abril, de R$ 26 milhões para R$ 20 milhões. Para o segundo trimestre, a projeção para o recolhimento do mesmo segmento foi reduzido em R$ 18,3 milhões, o equivalente a 70% dos recebimentos em um mês “normal”.
O trabalho dentro da porteira também foi afetado pelas medidas adotadas por algumas prefeituras. O valor das notas fiscais emitidas pelo setor agropecuário despencou na semana de maior isolamento social, entre 23 e 27 de março. O faturamento da agropecuária diminuiu 13% em comparação à média anterior à crise, segundo dados compilados pela Secretaria de Fazenda de Mato Grosso que levam em conta os documentos emitidos no período, como Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e), Nota Fiscal de Consumidor eletrônica (NFC-e) e Conhecimento de Transporte (CT-e).
No primeiro bimestre, antes da pandemia, o setor faturou em torno de R$ 466 milhões por dia. Na semana de março de maior restrição, esse valor chegou a recuar para R$ 408 milhões diários. Na primeira semana de abril, o valor se recuperou, chegando a R$ 485 milhões
“Houve fechamento de estradas e o a armazéns em alguns municípios. Isso prejudicou o agro dentro da porteira”, disse ao Valor o secretário de Fazenda de Mato Grosso, Rogério Gallo. O superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, afirmou que as restrições para descarga de soja e movimentação de cargas naquela semana – 23 a 27 de março- podem ter atrapalhado o volume do grão exportado no mês, que ficou em 3,1 milhões de toneladas. Sem as travas, outras 300 mil toneladas poderiam ter sido escoadas, calculou Latorraca.
“A queda de 13% [no faturamento diário entre 23 e 27 de março] não tem explicação nenhuma de mercado. Não é um problema de demanda, mas sim de fechamento de comércio de e e tensão que pairou na população. Houve um problema no transporte, faltou caminhão naquela semana. Teve tensão generalizada, mas totalmente contornada rapidamente”, ponderou.
Em alguns segmentos da indústria de transformação do agronegócio de Mato Grosso, o impacto foi ainda maior. As usinas de etanol renderam uma arrecadação 50% menor de ICMS em abril. O faturamento diário chegou a cair 60%, ando de R$ 10 milhões antes da crise para R$ 4 milhões durante a semana de maior isolamento. Agora, registra faturamento médio de R$ 7 milhões por dia.
A agroindústria em geral sofreu mais a partir da última semana de março. O faturamento regrediu de R$ 73 milhões por dia para R$ 60 atualmente. A arrecadação nos primeiros dias de abril caiu 14,5%, com R$ 27,5 milhões a menos de ICMS nos cofres estaduais. “Nossa preocupação reside na agroindústria, como esmagamento de soja e frigoríficos, que tiveram sensível redução de faturamento na primeira quinzena de abril, decorrentes da redução da demanda”, disse o secretário da Fazenda do Estado.
Com a indústria frigorífica de Mato Grosso, que tem seis unidades de abate de bovinos paradas com férias coletivas, o governo registrou uma queda de 21,3% na arrecadação nos primeiros dez dias de abril. O faturamento médio diário ou de R$ 34 milhões, antes da pandemia, a R$ 25 milhões. Mato Grosso é o principal Estado produtor de carne bovina do Brasil.
Como um todo, o faturamento médio diário da economia mato-grossense registra queda de 21%. ou de R$ 1,31 bilhão para R$ 1,03 bilhão entre o registrado no primeiro bimestre e agora. A estimativa da secretaria para a arrecadação estadual (agropecuária, indústria, comércio e serviços) em abril foi reduzida em 32%, o que significa R$ 286,6 milhões a menos nos cofres em relação à projeção anterior. Para o segundo trimestre, a estimativa de arrecadação foi reduzida em 42%, o que representa um impacto de R$ 1,1 bilhão.
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