Desde a derrocada da bolsa no mês de março até agora, parte do mercado tem evitado as ações ligadas a commodities por causa da forte volatilidade das cotações do petróleo e do minério de ferro. Além disso, pesa a baixa previsibilidade dos efeitos para a economia global da pandemia. Mas a Vale tem se destacado até aqui quando comparada a seus pares.
No ano, enquanto o Ibovespa acumula desvalorização de 32,35%, considerando o fechamento de ontem, Vale ON registrou perdas de 16,83%. Já CSN ON perdeu 48,9%, Gerdau PN teve queda de 43,40%, Gerdau Metalúrgica PN recuou 45,55% e Usiminas caiu 54,05%. Para gestores, de fato é arriscado investir em ações ligadas a um cenário global tão desafiador, mas a Vale, após um 2019 já bastante complicado por causa do desastre em Brumadinho (MG), destaca-se pelos fundamentos e há razão para tal resiliência ante os demais ativos.
“Desde março aumentamos a posição em Vale, após ar um tempo sem o papel na carteira. É uma empresa diretamente exposta aos estímulos econômicos promovidos na China, exposta também ao câmbio e tende a continuar com bons resultados”, afirma uma gestora, que prefere não ser identificada.
De fato, os números são positivos para a mineradora. Do início da crise do coronavírus até agora, a cotação do minério de ferro ou de US$ 90 para aproximadamente US$ 85 por tonelada, comportamento muito diferente do que é visto no petróleo, que chegou a atingir cotação negativa na segunda-feira (20).
Além disso, gestores também apontam que a posição de caixa é extremamente favorável para a Vale, que fez um grande trabalho de gestão após o episódio de Brumadinho e hoje colhe os frutos. Enquanto isso, a CSN permanece com uma alavancagem alta, o que reduz sua atratividade.
Outro fator citado pelo mercado como positivo para a Vale é o fato de que seu maior cliente é a China, que já vem demonstrando aumento de demanda conforme sua economia se recupera da pandemia de covid-19. Segundo a publicação especializada “Fastmarkets MB”, o preço do produto de maior qualidade proveniente do Brasil – finos de minério com teor de 65% – avançava na semana ada indicando que as siderúrgicas ampliaram a demanda.
Quem também aproveitou o momento para aumentar a alocação em Vale de 12% para os atuais 16% foi Igor Lima, gestor da Galt Capital. Para ele, enquanto diversos ativos não oferecem muita previsibilidade diante dos efeitos da crise, a Vale, além de ter apoio na relativa estabilidade na cotação do minério de ferro, é capaz de demonstrar fundamentos que garantiriam balanços mais positivos nos próximos meses.
“A Vale pegou a crise em uma situação muito melhor, com uma dívida muito baixa, produção eficiente, caixa quase líquido e custo de produção mais baixo. E o preço do minério se mostra resiliente, enquanto a demanda na China permanece até que forte. É uma combinação boa”, diz.
Para ele, outro fator importante é a valorização do dólar, que acumula ganhos de 41,11% no ano e renova as máximas históricas, criando um ambiente muito favorável para empresas exportadoras, o que explica parte do avanço dos papéis da Vale nos últimos dias.
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