A Vale anunciou ontem que vai investir pelo menos US$ 2 bilhões em projetos de energia renovável para reduzir em 33% as emissões de carbono da companhia até 2030. A iniciativa fará cair as emissões da empresa para 9,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente ante 14,1 milhões de toneladas em 2017, ano base da comparação.
O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, disse ao Valor que a empresa ainda vai definir metas de redução de emissões para a cadeia ligada à mineração, que envolve fornecedores e clientes. Segundo ele, 92% dessas emissões estão ligadas à cadeia siderúrgica. Essa realidade faz com que a produção de minério de ferro de alta qualidade seja uma ação relevante para ajudar a reduzir os gases poluentes.
Bartolomeo afirmou que apenas no segundo semestre a Vale vai detalhar as ações que poderão ser tomadas no chamado Escopo 3 de redução de emissões, que envolve a cadeia da mineração. O executivo previu que haverá falta de minério de ferro de qualidade para quem precisa cumprir compromissos de redução de emissões de carbono. “O mundo do futuro vai ver uma eventual sobra de minério de baixa qualidade e uma falta de minério na alta qualidade”, afirmou. “Pra quem precisa reduzir sua pegada de carbono, minério de alta qualidade é fundamental”, acrescentou.
Para aumentar a oferta de minério de alta qualidade, a Vale pretende ampliar a capacidade de produção do empreendimento S11D, no Pará, para 120 milhões de toneladas a partir de 2024. Maior projeto individual de minério de ferro da empresa, o S11D, na Serra Sul de Carajás, foi concebido para produzir até 90 milhões de toneladas por ano.
Em apresentação ontem a analistas do Bank of America Merril Lynch, Bartolomeo revelou que há um projeto pendente de aprovação para exploração do S11C, corpo mineral adjacente ao S11D e que poderia produzir até 30 milhões de toneladas por ano, com início da operação a partir de 2027. Bartolomeo fez questão de dizer que a engenharia pensada até o momento para o S11C ainda é inicial e frisou que a viabilidade do projeto depende de se encontrar uma solução logística para o escoamento da produção.
Na apresentação aos analistas, Bartolomeo mostrou que, com todos os projetos aprovados ou ainda em fase de aprovação que existem no portfólio da empresa, a capacidade de produção de minério de ferro poderá chegar a 450 milhões de toneladas. Este ano a produção da empresa será entre 310 milhões e 330 milhões de toneladas de minério de ferro.
O diretor-executivo de relações institucionais, comunicação e sustentabilidade da mineradora, Luiz Eduardo Osorio, ressaltou que, para ajudar a meta da companhia de atingir em 2050 a emissão líquida zero nos escopos 1 e 2 – que englobam as emissões diretas e indiretas da empresa – foram escolhidos 35 projetos após análise detalhada.
No Escopo 3, Osorio destacou que já há conversas com clientes e fornecedores da Vale para redução de emissões ao longo das cadeias produtivas. “No segundo semestre vamos estabelecer uma ambição para o Escopo 3, para induzir os clientes e fornecedores na mesma direção. E a gente já começou esse engajamento ativo com clientes de siderurgia e metalurgia. E o objetivo obviamente é reduzir as emissões na cadeia de valor”, afirmou.
Para se chegar ao portfólio de 35 projetos para redução de emissões da empresa, a Vale estabeleceu internamente o Fórum de Baixo Carbono, um grupo liderado pelo próprio Bartolomeo, diretores-executivos e funcionários de diversas áreas da empresa, com o objetivo de guiar a implementação e a entrega dos compromissos assumidos.
Segundo Osorio, as 35 iniciativas selecionadas são analisadas por meio da “Curva de Custo Marginal de Abatimento”, ferramenta que permite ordenar projetos em termos de custos e potenciais de redução de emissão.
Alguns desses projetos-pilotos já entrarão em operação no segundo semestre deste ano. A Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM) vai receber a primeira locomotiva de manobra 100% elétrica; veículos elétricos serão testados em operação subterrânea na Mina de Creighton, no Canadá; e a pelotizadora da Vale em São Luís (MA) substituirá o carvão por biocombustível.
Osório disse que a redução de 33% nas emissões até 2030 faz parte do compromisso firmado no Acordo de Paris, que estabeleceu um limite máximo de aumento da temperatura média global de 2ºC até 2100. Segundo ele, a Vale é a primeira companhia a apresentar as metas de redução de CO2 com o nível de detalhamento apresentado ontem aos investidores.
Bartolomeo afirmou ser um entusiasta da questão da responsabilidade ambiental e social e afirmou que o novo pacto da Vale a por “escutar” mais os anseios da sociedade. “Entendemos que precisávamos mudar a forma como nos relacionávamos com a sociedade. O novo pacto começa por reparar Brumadinho e acontece com um processo de escuta muito forte”, salientou.
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