MP investiga atraso da Rumo em obras na rede ferroviária da região de Campinas

Falta de segurança às margens dos trilhos expõe ao risco os moradores do entorno da malha ferroviária em Campinas; a concessionária Rumo Malha Paulista, responsável pelas obras de ampliação do sistema, justificou que o atraso é consequência das dificuldades impostas pela pandemia (Gustavo Tilio)
Falta de segurança às margens dos trilhos expõe ao risco os moradores do entorno da malha ferroviária em Campinas; a concessionária Rumo Malha Paulista, responsável pelas obras de ampliação do sistema, justificou que o atraso é consequência das dificuldades impostas pela pandemia (Gustavo Tilio)

Correio Popular (Campinas-SP) – O Ministério Público de São Paulo instaurou um procedimento para apurar atrasos em obras na malha ferroviária paulista que serviriam para ampliar a capacidade do sistema e dar mais segurança ao entorno dos trilhos incluindo trechos que atravessam Campinas e cidades da região. O serviço deveria ter sido entregue há dois meses. 

A demora na conclusão das intervenções mobilizou entidades ligadas ao desenvolvimento da malha ferroviária paulista e os municípios que compõem a região. O presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (RMC) solicitou informações sobre o assunto à Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado devido à preocupação com o impacto que os atrasos nas obras representam tanto do ponto de vista econômico quanto social para a região.

As obras são de responsabilidade da empresa Rumo Malha Paulista, que há dois anos recebeu a concessão para operar o sistema. A empresa alegou que problemas com a pandemia provocaram mudanças no cronograma de execução dos serviços previstos, e que outras intervenções foram realizadas no período. 

De acordo com o despacho do procurador Sérgio Caribé, responsável pelo procedimento de apuração, nove intervenções foram alvo de denúncias de atrasos. As intervenções deveriam ter ficado prontas no primeiro semestre e foram consideradas não concluídas, segundo o procurador.

No despacho do MP, Caribé fez apontamentos ainda a respeito do tempo decorrido entre o descumprimento do prazo de conclusão das intervenções e a decisão final da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) quanto à necessidade de aplicação de multas ou outras medidas previstas nas normas ou no contrato de concessão. Um segundo ponto abordado pelo MP se refere à ausência de pontos de controle, o que se infere na informação fornecida pela ANTT de que a fiscalização regulatória se dá apenas na conclusão das obras.

As denúncias sobre o atraso nos serviços pactuados partiram da Organização Não Governamental (ONG) FerroFrente. Segundo o engenheiro José Manoel Ferreira, responsável pela ONG, entre as obras que não saíram do papel estão a implantação de agens inferiores em Campinas e Salto, incluindo faixas, calçadas e iluminação, além da implantação da segunda linha férrea em Cordeirópolis, Limeira, Americana e Itu. Está atrasado também a implantação de solução de sistemas ferroviários em Mairinque, Itu, Salto, Indaiatuba, Campinas, Hortolândia, Sumaré, Nova Odessa, Americana e Limeira.

O engenheiro destaca que o problema da segurança nesses e em outros trechos motivaram a provocação do MP. “A investigação do Ministério Público ocorre desde maio deste ano. Mas as obras que são para melhoria e segurança da ferrovia na região tiveram um prazo que já deveria ter sido cumprido. Já aconteceu acidentes, e podem acontecer outros”, alerta. Ele atenta para o fato do conflito que ocorre entre o crescimento das cidades e as ferrovias que cortam os municípios. “Isso poderia ser solucionado com os investimentos”, disse.

O engenheiro destaca que os investimentos foram o grande motivo para a renovação da concessão. “É preciso uma atitude mais firme por parte dos órgãos de fiscalização, como a ANTT quanto a penalidades pelos atrasos”, disse.

O prefeito de Jaguariúna e presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC, Gustavo Reis (MDB), também avalia como preocupante esses atrasos e os impactos que eles podem representar para os trechos da malha que cortam as cidades da região. Segundo Reis, foi solicitado à Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado uma posição sobre essas obras na RMC, mas o Conselho ainda aguarda uma posição. “As obras ferroviárias são essenciais para que a nossa região possa se desenvolver economicamente e também para que haja mais segurança aos moradores, já que as ferrovias cortam os municípios”, disse.

A ANTT informou ao MP que recebe relatórios bimestrais da concessionária e que faz fiscalização anualmente, ao fim do período de conclusão das obras previstas, conforme prevê o contrato de concessão.

Neste caso, a ANTT esclareceu que se a obra não estiver terminada é aplicada uma penalidade integral, mesmo que a intervenção tenha sido feita parcialmente. Informa também que a penalidade é o aumento do valor da outorga a ser pago pela concessionária, e que os valores a mais de outorga dos atrasos referentes às obras do ano de 2021 serão aplicados após a conclusão do processo específico neste ano.

Em relação às obras de 2022, uma alteração da legislação concedeu um ano de prazo a mais para conclusão, sob a justificativa da concessionária dos atrasos causados pela pandemia. O contrato com a Rumo Malha Paulista para as obras foi assinado em maio de 2020. O órgão informa que um outro procedimento istrativo referente à apuração de responsabilidade pelos atrasos por parte da Rumo foi instaurado para justificar os motivos, e que a concessionária segue no prazo de defesa. 

A Rumo Malha Paulista informou que todos as obras serão finalizadas e que antecipou outras intervenções com o objetivo de expandir a capacidade da ferrovia, como a instalação de mais de 20 quilômetros de novos trilhos. Tais estratégias tiveram que ser adotadas devido à crise da pandemia, que atingiu o setor de infraestrutura e o ferroviário. Os problemas com a covid-19, conforme a empresa, dificultaram desapropriações e despejos, além do rompimento e desorganização global e local de diversas cadeias de fornecedores. 

Conforme a empresa, as obras que não foram entregues no prazo tiveram as devidas justificativas apresentadas, de acordo com o próprio contrato e os regulamentos vigentes. Levando-se em conta tal prorrogação, as obras previstas seguem em curso e serão concluídas até maio de 2023.

Fonte: https://correio.rac.com.br/campinasermc/mp-investiga-atraso-da-rumo-em-obras-na-rede-ferroviaria-da-regi-o-de-campinas-1.1272794

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