Valor Econômico – A Suzano, maior produtora de celulose de mercado do mundo, acaba de conquistar mais um primeiro lugar no pódio segmentado do setor de celulose e papel. Com a aquisição dos ativos de papéis de higiene (tissue) da Kimberly-Clark no Brasil, consumada ontem, a companhia assumiu a liderança do mercado nacional de papel higiênico, menos de seis anos depois de ter estreado nesse segmento.
“Essa evolução mostra a capacidade de uma grande empresa de gerar novos negócios internamente, o que é incomum”, disse ao Valor o diretor de bens de consumo e relações corporativas, Luis Bueno.
A companhia brasileira, que chegou a esse mercado em 2018, já era líder nas regiões Norte e Nordeste. A Kimberly-Clark liderava no Sudeste. Pela última leitura da Nielsen, de março e abril, a participação somada das duas empresas no país chegou a 24,3% em valor, dois pontos percentuais à frente da segunda colocada, a Softys, do grupo chileno CMPC.
Fechado pelos US$ 175 milhões (R$ 875 milhões ao câmbio atual) previstos inicialmente, o negócio traz para o portfólio da Suzano uma marca icônica, Neve, e uma fábrica com capacidade de 130 mil toneladas anuais em Mogi das Cruzes (SP), entre outros ativos.
Antes da aquisição, a companhia contava com cinco plantas de papéis de higiene (que incluem ainda guardanapos e toalhas) entre Estados do Norte e do Nordeste e no Espírito Santo, aptas a produzir 150 mil toneladas por ano. Agora, a capacidade produtiva consolidada chega a 280 mil toneladas anuais e 1 mil funcionários são incorporados a seus quadros.
Com a nova unidade fabril, a Suzano se posiciona estrategicamente para competir no maior mercado de tissue do país, o Sudeste, e avançar rumo ao Sul. “Não havíamos priorizado o Sul até agora, mas com uma fábrica em São Paulo é possível chegar a esse mercado. E há ali uma importante oportunidade de crescimento”, disse.
“Evolução mostra a capacidade de uma empresa de gerar novos negócios”
— Luis Bueno
Uma linha de conversão, que está na fábrica da KC em Camaçari (BA), será desmontada e transferida para uma das fábricas da Suzano, ainda pendente de escolha. A expectativa é que a transferência se dê no primeiro ano de operação integrada.
Além de complementaridade geográfica, a aquisição traz ganhos de portfólio. A Suzano a a contar com três marcas de papel higiênico – Neve (), Mimmo e Max Pure – nacionais e com diferentes posicionamentos de preço. Em guardanapos, serão três marcas: a regional Scala e Scott, também usadas em papel toalha, e Grand Hotel.
A transação incluiu o licenciamento de marcas globais da KC, como Scott, Duramax e Kleenex, que continuarão a ser vendidas no país. De acordo com Bueno, as sinergias geradas com a incorporação dos ativos ainda estão sendo detalhadas. Mas, de partida, está claro que a a ter produção mais perto do consumidor final.
A Suzano era fornecedora de celulose para a KC e a unidade de tissue seguirá comprando matéria-prima da companhia, a preços de mercado, afirmou o executivo.
No ano ado, a indústria brasileira produziu 1,41 milhão de toneladas de tissue, uma alta de 6,7% frente a 2021, e 97% desse volume foi comercializado internamente – em papéis de higiene, a rentabilidade depende também da proximidade ao consumidor.
A capacidade instalada ainda é maior do que a demanda e a indústria, mais fragmentada do que em outras regiões, o que tem estimulado novas rodadas de consolidação, junto com a pressão de margem crescente nos competidores que não têm produção de celulose integrada. É sobretudo o potencial de crescimento que tem atraído novos investidores a esse mercado, como ocorreu com a própria Suzano.
Segundo Bueno, o consumo per capita no Brasil ainda está em torno de sete quilos ao ano, enquanto na Argentina e no Chile vai de 12 a 14 quilos. Em mercados maduros, como Estados Unidos e Europa, são até 25 quilos por habitante por ano. “Ainda tem uma oportunidade de crescimento relevante, mesmo para chegar nos patamares de nossos vizinhos. Esse crescimento está relacionado ao PIB e ao avanço do saneamento”, explicou.
Outra tendência no país é a migração do consumo para papéis de folha dupla e, mais recentemente, para os de folha tripla. Essa é uma característica do mercado brasileiro que vai se manter, avalia Bueno.
A Suzano anunciou planos de investir R$ 600 milhões em uma nova fábrica de tissue no Espírito Santo, em Aracruz, mas o projeto ainda depende de aprovação do conselho de istração.
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