Folha de S. Paulo – Em termos de apresentação, em comparação às anteriores, a terceira versão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) veio mais organizada. A forma de listar deu mais clareza sobre setores beneficiados e localização dos projetos. Mas especialistas dizem que um problema antigo se repetiu, a falta de clareza sobre como o governo vai operacionalizar tantas propostas, em diferentes sentidos.
Primeiro, vem a questão da gestão. “A falha de primeira grandeza dos PACs 1 e 2 foi a fragilidade da governança, que levou a milhares de obras inacabadas, paralisadas”, afirma Claudio Frischtak, sócio da consultoria internacional de negócios Inter.B, especializada em investimentos de infraestrutura. “E ainda não está claro como vão resolver isso neste Novo PAC.”
Um estudo sobre os PACs realizado pela sua consultoria em 2017 identificou que o governo não tinha nem sequer feito uma análise do custo-benefício das duas versões do programa, apesar de elas serem os principais motores do investimento público federal.
É isso que explica, diz ele, que uma ferrovia Transnordestina tenha sido lançada em 2007, no primeiro PAC, e esteja sendo retomada agora no Novo PAC, com conclusão, na melhor das hipóteses, em 2027.
“É um imperativo para o governo anunciar números grandes, muitas obras, mesmo que isso misture pêra com maçã e não faça muito sentido” afirma Frischtak.
“Mas, se o governo vai investir R$ 1,7 trilhão, ou mais, ou menos, importa pouco. Ao fim, o que vai viabilizar tudo, afora, claro, o espaço fiscal, que é outro ponto que deixo de fora aqui, vai ser a qualidade da governança —e chamo de governança como o governo vai governar tudo isso, como vai organizar prioridades, o que vem antes e o que vai depois, como vai medir o retorno, em termos financeiros e para a sociedade, e se a conclusão dos projetos escolhidos garante o serviço a que se propôs, com a qualidade que se queria.”
Não parece que o governo tenha aplicado qualquer indicador de retorno na seleção de algumas grandes obras que estão no Novo PAC. Ele cita Angra 3, cuja obra será retomada, e Ferrogrão, que entrou no Novo PAC na categoria de estudos.
“Retomar Angra 3 é uma boa ideia? Quanto custa a sua energia? Mesmo considerando a energia nuclear como de baixa emissão de gás de efeito estufa, quais são as considerações a favor dela">
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