O Globo – Todos os anos, o Brasil envia ao exterior em torno de 350 milhões de toneladas de minério de ferro. Quase tudo é extraído no interior, com destaque para o Pará e Minas Gerais, a centenas de quilômetros dos portos na costa. Transportar boa parte disso para o outro lado do mundo — a China é o principal destino — é um desafio logístico que faz toda a diferença.
Quanto menor for o custo de transporte, maior o retorno do negócio. Por isso, muitas vezes, a infraestrutura de transporte é parte dos projetos desenvolvidos.
A gigante Vale, responsável pela maior parte da produção de minério de ferro do país, opera, sob concessão, duas ferrovias. A Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), que liga o polo produtor no interior mineiro ao litoral do Espírito Santo, e a Estrada de Ferro Carajás (EFC), que transporta a produção do sul do Pará ao litoral do Maranhão.
Ambas tiveram contratos renovados antecipadamente em 2020. Em dezembro do ano ado, a Vale repactuou a renovação, aceitando pagar R$ 11 bilhões a mais em outorgas à União.
50 locomotivas
Em março, a companhia anunciou a encomenda de 50 locomotivas à americana Wabtec, que começarão a ser entregues em 2026. Catorze circularão na EFC, enquanto 36 serão destinadas à EFVM. Antes da encomenda, em junho do ano ado, a Vale e a Wabtec já tinham assinado um contrato de gestão de desempenho, de R$ 1,8 bilhão em dez anos, para “elevar ainda mais a confiabilidade e segurança operacional das locomotivas” da EFC.
A Vale também tem investido nos portos. O foco é aumentar a automação, reduzindo o risco de acidentes envolvendo pessoas e aumentando a eficiência, como foi feito num aporte de US$ 10 milhões no Terminal da Ilha Guaíba (TIG), em Mangaratiba, litoral sul do Rio.
A região abriga, além do TIG, o terminal da Companhia Portuária Baía de Sepetiba (BS), também operado pela Vale, e o Tecar, da CSN Mineração, ambos no Porto de Itaguaí.
A vizinhança ainda terá um novo terminal, com um investimento de R$ 4 bilhões, concessão que acaba de ser conquistada pela Cedro Mineração, que produz 7 milhões de toneladas por ano de minério de ferro, em duas minas em Nova Lima (MG) e Mariana (MG), e projeta uma expansão para cerca de 20 milhões por ano em 2027.
— Hoje, vendemos o minério no mercado doméstico e ele é exportado através dos portos das grandes empresas que estão ali em Itaguaí — afirma Fabiano de Carvalho Filho, vice-presidente Comercial, de Estratégia e Projetos da Cedro, lembrando que as operadoras dos terminais também estão expandindo sua produção.
A capacidade que hoje existe lá vai acabar sendo ocupada por esses players maiores, o que vai restringir a oferta de capacidade para mineradoras de médio porte, como a Cedro. O intuito do nosso investimento é criar essa alternativa para o escoamento.
Inovação em ferrovia
As minas da Cedro estão conectadas aos terminais portuários do Rio pela malha ferroviária da MRS Logística — 125 milhões de toneladas de minério de ferro am por seus vagões todos os anos —, que também investe em inovações, como um trem não tripulado, desenvolvido internamente.
No transporte marítimo, a Vale aposta nos cargueiros movidos em parte a energia eólica. Já a mineradora de origem sul-africana Anglo American vem investindo em navios a Gás Natural Liquefeito (GNL), “capazes de emitir 35% menos gases de efeito estufa”. Em 2023, uma dessas embarcações aportou no Brasil, no terminal de minério de ferro do Porto do Açu, no litoral norte do Rio.
A estrutura é operada pela Ferroport, sociedade da Anglo American com a Prumo, empresa que controla o porto. Ano ado, o terminal embarcou pouco mais de 25 milhões de toneladas, alta de 4% ante 2023 e recorde desde que começou a operar, em 2014.
O terminal faz parte do sistema Minas-Rio, principal operação da Anglo American no Brasil, comprado do empresário Eike Batista entre 2007 e 2008. A mina fica nos municípios de Conceição do Mato Dentro (MG) e Alvorada de Minas (MG), e a carga chega ao porto por um minerioduto de 529 quilômetros.
A logística da mineração reforça também a infraestrutura de transporte em geral. Um dos principais projetos de minério de ferro do país, na mina Pedra de Ferro, em Caetité (BA), inclui 537 quilômetros de trilhos até Ilhéus, trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).
O investimento soma R$ 15,4 bilhões, incluindo um terminal portuário, segundo a Bahia Mineração (Bamin), controlada pelo grupo ERG, do Cazaquistão, e dona do projeto. Atualmente, o foco das obras está num trecho de 126 quilômetros da ferrovia, segundo Eduardo Ledsham, CEO da Bamin. No porto, foram concluídas obras em terra, e os trabalhos no mar estão para começar.
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