Investimentos previstos em mineração totalizam US$ 68 bi

Valor Econômico – A indústria mineral brasileira mantém o otimismo com os rumos do mercado. A expectativa é que a demanda chinesa por minério de ferro permaneça resiliente e o setor possa assumir cada vez mais um papel relevante no cenário global com o avanço dos minerais críticos e estratégicos, fundamentais para promover a transição energética. Os investimentos previstos entre 2025 e 2029 totalizam US$ 68,4 bilhões, o que representa um aumento de 6,6% em relação ao período anterior (2024-2028), segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

As projeções da entidade ainda levam em conta alguns desafios que envolvem o setor, como as incertezas da guerra comercial entre Estados Unidos e China e as tarifas de 25% impostas pelo presidente americano, Donald Trump, ao alumínio e ao aço importados do Brasil. Os minérios de ferro são os principais componentes na produção siderúrgica. Outra preocupação considerada pelo Ibram foi o comportamento dos preços minerais. Em 2024, no caso do ferro, houve oscilação para baixo – de US$ 135 a tonelada em janeiro para US$ 105 em dezembro.

“Os preços do minério de ferro devem ficar neste ano na faixa entre US$ 95 e US$ 105 a tonelada”, afirma Julio Nery, diretor de assuntos minerários do Ibram. A queda no preço da tonelada no mercado internacional no ano ado não afetou o faturamento da indústria mineral. O relatório do Ibram mostra que a receita cresceu 9,1% em 2024. Atingiu R$ 270,8 bilhões, sendo o minério de ferro responsável por 59% do total. O crescimento foi impulsionado pela valorização do dólar e pelas receitas com o mineral, que registrou alta de 8,6% na comparação anual.

Do total de investimentos previstos nos próximos quatro anos, 28,7% (US$ 19,59 bilhões) serão realizados pelas mineradoras de ferro. Trata-se de um volume 13,4% superior aos aportes feitos nos projetos previstos para o período 2024-2028. Segundo o Ibram, a guerra comercial entre americanos e chineses ainda não afetou o cronograma de investimentos do setor como um todo, mas acendeu o sinal de alerta.

No caso específico do minério de ferro, há uma histórica dependência nacional do mercado chinês. Mesmo em épocas de retração, Pequim sempre demandou grandes quantidades do Brasil, a despeito da concorrência com países mais próximos geograficamente, como a Austrália, considerada uma grande produtora de ferro, mas com qualidade inferior ao produto brasileiro em teor de pureza. “O ferro do Brasil tem um prêmio entre US$ 5 e US$ 10 pela sua qualidade. O minério com maior teor gasta menos energia no processamento e gera menos escória [resíduo usado para produção de cimento]”, afirma Nery.

Em 2024, as exportações de minério de ferro e derivados atingiram 389 milhões de toneladas, das quais praticamente dois terços tiveram a China como destino. Os embarques resultaram em US$ 29,85 bilhões, o que colocou o setor atrás apenas dos segmentos de óleos brutos de petróleo (US$ 44,84 bilhões) e da soja (US$ 42,9 bilhões) em volume de receitas a partir das vendas ao exterior.

Para os EUA, o país exportou US$ 4,677 bilhões em produtos de ferro e aço. Esse volume representou 14,9% das importações americanas nesses segmentos. Apenas o Canadá teve uma participação maior (24,2%). Porém, ao contrário do que ocorre com as vendas aos americanos, o ferro é embarcado para os chineses praticamente em estado in natura, após ar por um processo de beneficiamento (britagem, moagem e separação magnética) para aumentar o teor de pureza.

Na China, o mineral segue para siderúrgicas, que o transformam em produtos de aços longos (como vergalhões) e planos (laminados, chapas moldadas a frio e galvanizados), usados em larga escala na indústria automobilística e naval. Já no caso americano, as exportações de ferro in natura são inexpressivas, segundo o diretor do Ibram. “O tarifaço pesa nas siderúrgicas, e não nas mineradoras”, diz Nery.

Em razão do expressivo parque transformador dos EUA, o ferro nacional majoritariamente é embarcado em forma de aço semi-acabado e de ferro-gusa, já limpo da escória, processo no qual é colocado em altos-fornos juntamente com coque ou carvão vegetal e calcário, para chegar a um produto intermediário para desenvolvimento final do aço nas siderúrgicas americanas.

Segundo Lucas Laghi, head de mineração e siderurgia da XP, as principais siderúrgicas exportadoras de ferro gusa são a ArcellorMittal e a argentina Ternium, ambas não listadas na B3. “No caso de CSN, Usiminas e Gerdau, de capital aberto, as exportações para os EUA são pouco expressivas”, diz Laghi, que não acredita em um “cavalo de pau” nos investimentos já anunciados por parte das mineradoras. “No caso do ferro, o setor está muito atrelado à China e não há sinais que a demanda por aço terá grandes mudanças; talvez [ocorra], no caso de outros metais, como níquel e cobre, mais expostos à volatilidade do crescimento global”.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/mineracao/noticia/2025/04/29/investimentos-previstos-em-mineracao-totalizam-us-68-bi.ghtml

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