Valor Econômico – Após dar seu primeiro o no setor de saneamento básico no Brasil, em 2024, o grupo espanhol Acciona estuda novos leilões de água e esgoto e negocia uma t venture com a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) para disputar projetos específicos, afirmou José Manuel Entrecanales, presidente-executivo global do grupo, que falou com o Valor durante sua visita ao Brasil, na semana ada.
Segundo o executivo, a companhia também analisa oportunidades no setor de transportes, como o túnel Santos-Guarujá e concessões de mobilidade urbana em São Paulo, além do projeto de construção do novo centro istrativo do governo paulista, no centro da capital. No entanto, o cenário de juros elevados do país podem prejudicar o interesse da empresa, disse ele.
“A economia do Brasil tem alguns KPIs [indicadores-chave de desempenho] muito positivos, como por exemplo uma balança de pagamentos favorável, um setor de mineração explosivo, e um setor agroindustrial e agrícola fantástico. Porém, tem também um custo de financiamento muito alto, taxas de juros elevadas, o que dificulta o investimento, deixa muitos investimentos fora da rentabilidade”, afirmou.
Hoje a Acciona já é responsável pela concessão da linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, que está em construção. Além disso, firmou no início deste ano uma Parceria Público-Privada (PPP) com a Sanepar para operar esgoto em um dos blocos de município licitados no ano ado pela empresa estadual.
Este foi o primeiro movimento do grupo espanhol no segmento de saneamento, mas a empresa já estuda outros projetos. Entre eles, estão o leilão da Cesan (Companhia Espírito-santense de Saneamento), marcado para 17 de junho, e os blocos de Pernambuco, que deverão ser licitados ainda neste ano. Os projetos da Paraíba e da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) também estão no radar.
A Acciona poderá entrar sozinha ou em parceria. A empresa está avançando com um memorando de entendimentos com a Sanepar para disputar concessões fora da área da estatal, seja no Paraná ou outras regiões do Brasil, segundo Entrecanales.
“Esse é um projeto muito ambicioso. Acreditamos que, com um parceiro tão bom, tão profissional e tão reconhecido como é a Sanepar, podemos ter certo êxito em desenvolver o saneamento em muitos municípios mais”, disse. O acordo ainda não está fechado, destacou o executivo.
Procurada, a empresa paranaense disse que “não se manifestará no momento”.
Já no caso dos leilões rodoviários, a Acciona deverá focar em projetos com obras mais complexas, como é o caso do túnel Santos-Guarujá. “Nossa competitividade em projetos de estradas em geral é menor porque são projetos de menor complexidade, menos intensivos em capital, e aos quais muitas outras empresas concorrentes têm o. Portanto, são projetos com margens estreitas”, afirmou o executivo. Ainda assim, ele diz que o grupo tem analisado as concessões.
Já no caso do setor de mobilidade urbana, Entrecanales afirmou que a empresa está analisando “todos os projetos do governo de São Paulo de novas linhas.”
No mercado, a percepção é que o principal foco da Acciona, além da conclusão da linha 6 do Metrô de São Paulo, é a futura linha 16, que teria que ser construída desde o zero. A empresa já teve aval do governo paulista para realizar os estudos, para que uma licitação da concessão seja realizada.
Porém, o executivo disse que entre as iniciativas em estudo não há uma prioridade clara. “Todos [os projetos] me parecem centrais. A prioridade que damos a cada um dependerá de seus detalhes específicos, como as expectativas de rentabilidade, a dificuldade, a busca pelos parceiros adequados, enfim, todos os detalhes que fazem a diferença e que ainda não estão definidos.”
Já no setor de geração de energia renovável, a Acciona decidiu recuar em seus planos no Brasil. Em 2021, a empresa chegou a anunciar um projeto de R$ 5 bilhões de parques eólicos, mas que acabou não saindo do papel. A companhia desistiu do negócio devido à alta de juros e à queda dos preços de energia no país.
“O Brasil é um destino preferencial para nossos investimentos, mas não tanto em energia. O país tem uma matriz energética muito completa e muito limpa. É um dos grandes países do mundo que menos necessita fazer transição energética. E, portanto, a necessidade de capacidade adicional é pequena. Em 2021 tivemos um pico de preços que oferecia uma possibilidade de rentabilidade razoável, mas que depois caiu a partir de 2022. Com isso, além da subida dos juros, a possibilidade de investir em renováveis no Brasil é escassa”, disse.
Uma exceção, segundo ele, é o setor de hidrogênio verde. Hoje, a companhia estuda um projeto do segmento no Rio Grande do Norte.
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