Com avanço de ferrovia no MT, Rumo prepara fase 2 da obra

Valor Econômico – Quem avança pela BR-163, entre Cuiabá e Rondonópolis (MT), já enxerga os primeiros sinais de que a nova ferrovia da Rumo no Mato Grosso começou a sair do papel. Os viadutos que am por cima da rodovia, com o nome da companhia estampado, deverão começar a receber em meados de 2026 os trens carregados de grãos do Centro-Oeste, em direção ao Porto de Santos.

Ao todo, o empreendimento deverá somar 750 km, entre e Lucas do Rio Verde, no norte do Estado, e Rondonópolis, onde a nova rota se conectará com a Malha Norte, ferrovia já em operação pela Rumo. Por enquanto, está em curso a primeira fase de construção, com 162 km. Porém, a empresa de logística do grupo Cosan já começa a preparar a segunda etapa da obra, que deverá ter início no próximo ano.

A primeira fase vai de Rondonópolis até o chamado Terminal 070, na região de Campo Verde. Os primeiros quilômetros já estão praticamente concluídos, mas a movimentação de carga só será possível em meados do próximo ano, quando entrará em funcionamento o primeiro terminal da nova malha – local onde os caminhões deverão descarregar os grãos, para fazer a transferência ao modal ferroviário.

A segunda etapa da obra seguirá do terminal até a região de Planalto da Serra, com mais 180 km de ferrovia. Esse próximo trecho já tem licenciamento ambiental emitido e projetos executivos praticamente prontos. A empresa começa a procurar as construtoras para os primeiros pacotes de obra.

A construção da fase 2 deverá começar até meados de 2026. “A ideia é não parar a frente de obras”, afirmou Natalia Marcassa, vice-presidente de relações institucionais da Rumo. A construção desse segundo trecho deverá levar em torno de dois anos.

A empresa também acaba de protocolar o licenciamento ambiental para a construção do ramal que irá conectar a ferrovia à capital Cuiabá. Porém, diante do volume bilionário de recursos, o grupo deverá priorizar a construção da linha central.

“A gente deve começar também [a construção do ramal] e aí vai avançando com as duas frentes à medida que for captando recursos e financiamento, porque são obras caras. Talvez a empresa não consiga dar velocidade grande nas duas de uma vez. Vamos avançar mais rápido na linha central, para aumentar a capacidade, e depois vamos para o ramal”, disse Marcassa.

A alta da taxa de juros não deverá travar o projeto, segundo a executiva. “A gente continua fazendo a ferrovia no cronograma acordado. É lógico que uma taxa de juros a 15% machuca qualquer negócio de infraestrutura, mas a empresa acredita muito na tese de crescimento da ferrovia no norte do Mato Grosso, então estamos mantendo os investimentos”, afirmou.

Só na primeira etapa deverão ser aplicados entre R$ 4,6 bilhões e 5,1 bilhões. Até o fim de 2024, R$ 2,1 bilhões já tinham sido investidos e, neste ano, a previsão da companhia é aplicar cerca de outros R$ 2 bilhões no projeto.

Com o fim da temporada de chuvas no Mato Grosso, que neste ano se arrastou até maio, a construção voltou a ganhar tração e deverá seguir o cronograma previsto do ano, disse Leandro Machado, gerente de implantação da Ferrovia de Mato Grosso, durante visita do Valor às obras.

Parte relevante das primeiras intervenções já foi concluída. Uma das principais e mais complexas obras de arte, a ponte do Rio Vermelho, logo nos primeiros quilômetros da nova ferrovia, está praticamente pronta, após cerca de 17 meses de construção.

A companhia também já adquiriu a totalidade dos trilhos que serão usados nos 750 km da ferrovia. Em um dos canteiros de obras próximo a Rondonópolis é possível encontrar pilhas com as 24 mil toneladas do material, que foi importado da China em dois navios – as unidades começaram a chegar em setembro do ano ado e os últimos trilhos acabam de ser descarregados, em abril deste ano.

Às margens da nova ferrovia também está sendo construída uma fábrica de dormentes (estruturas de concreto nas quais os trilhos são fixados) destinada apenas ao empreendimento. Após a conclusão da ferrovia da Rumo, a expectativa é que a planta seja desmontada.

“O volume de material necessário é tão grande que a empresa avaliou que seria mais vantajoso construir aqui do que trazer de outras fábricas”, afirmou Machado. Ao todo, deverão ser necessários cerca de 1,3 milhão de dormentes de cimento, para os 750 km da via. A fábrica deverá ficar pronta por volta de setembro deste ano, então os primeiros dormentes estão vindo de uma planta em São Paulo.

“Em uma obra como essa, uma das grandes dificuldades é levar o material até o canteiro”, explicou. Ao longo dos trechos em obras é possível ver, além da nova linha, trilhos que percorrem a via de forma paralela, que são construídos temporariamente, apenas para transportar os materiais da construção, e que depois também deverão ser desmontados.

A nova ferrovia da Rumo no Mato Grosso foi assinada em setembro de 2021 com o governo estadual. Do ponto de vista regulatório, o contrato é inovador: além de ser estadual, e não federal como a maior parte das grandes malhas, o projeto foi firmado em regime de autorização, e não de concessão – ou seja, tem caráter privado, sem recursos ou tomada de risco do poder público.

As obras tiveram início oficialmente no fim de 2022, mas ganharam força em 2024. Hoje há cerca de 5.800 funcionários trabalhando no empreendimento.

A ferrovia será uma extensão da operação da Rumo, que transporta boa parte dos grãos do Mato Grosso até Santos. A diferença é que hoje a carga chega por caminhão até o megaterminal da empresa em Rondonópolis, onde é feito o transbordo para a ferrovia. Em média, 1.500 caminhões por dia chegam ao complexo logístico para fazer a descarga.

Com o prolongamento da via e a instalação de novos terminais, até o norte do Estado, a ideia é que a carga chegue antes à ferrovia, reduzindo os trajetos feitos por caminhão no Mato Grosso. “Na prática vai despressurizar o terminal de Rondonópolis.”

Os contratos comerciais com os clientes interessados em usar o novo trecho a partir de 2026 ainda não foram firmados, o que deverá começar a ser feito a partir de agosto, segundo Marcassa. “Na verdade, são os nossos próprios clientes que estão interessados, porque eles já levam a carga por caminhão até Rondonópolis.”

A previsão inicial da empresa, divulgada em 2022, era que toda a ferrovia até Lucas do Rio Verde, custaria entre R$ 14 bilhões e R$ 15 bilhões, mas o valor deverá ser maior. A previsão de gastos com a primeira fase já sofreu a primeira revisão, para a estimativa atual de até R$ 5,1 bilhões, mas ainda não há cálculo atualizado para as etapas seguintes.

Questionada sobre a captação de recursos para os demais trechos, Marcassa afirmou que o financiamento não será problema, apesar do custo mais elevado, e que hoje a alavancagem financeira do grupo está baixa – o indicador, medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), encerrou o primeiro trimestre em 1,6 vezes.

Segundo ela, hoje a empresa negocia um empréstimo de mais R$ 1 bilhão com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e está trabalhando para ar recursos do Fundo Clima para a construção da ferrovia, sob a tese de que o modal irá substituir viagens de caminhão e reduzir as emissões. “O mercado acredita na tese da Rumo, não há problema para captar dívida, mas a gente quer captar mais barato”, disse.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/05/28/com-avanco-de-ferrovia-no-mt-rumo-prepara-fase-2-da-obra.ghtml

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