Ferrovias, parque e museu: como é a concessão que quer impulsionar o turismo em Campos do Jordão

Estadão – A concessão da centenária ferrovia turística Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ) à iniciativa privada entrou na fase de consulta pública. O plano é investir R$ 400 milhões na recuperação do complexo turístico da estrada de ferro e retomar o transporte de ageiros ao longo dos 47 quilômetros de trilhos que ligam Campos do Jordão a Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. Os trilhos percorrem a encosta da Serra da Mantiqueira, expondo cenários exuberantes. Desde 2017, a ferrovia está desativada.

A proposta da Secretaria de Parcerias em Investimentos do Estado contempla a modernização da linha e a recuperação de estações e oficinas. O projeto inclui ainda melhorias no Parque Reino das Águas Claras, em Pindamonhangaba, e no Museu da Memória Ferroviária, em Campos do Jordão.

De início, a concessão abrange apenas o trecho de quase 20 quilômetros, entre Campos do Jordão e Santo Antonio do Pinhal. Conforme o diretor-presidente da Companhia Paulista de Parcerias (P), Edgard Benozatti, a extensão até Pindamonhangaba é facultativa, mas a concessionária terá de fazer a manutenção desse trecho mesmo que não vá usá-lo. “Havendo interesse da concessionária, ela informa o poder concedente e leva os trens até Pindamonhangaba”, disse.

Para o gestor, o projeto fomenta o turismo sustentável e valoriza o patrimônio histórico. “Ao integrar cultura, natureza e mobilidade, a iniciativa transforma a ferrovia em um vetor estratégico para a economia local, estimula a integração regional e amplia a atratividade da região para novos investimentos”, diz.

A consulta pública para a concessão está aberta até o dia 23 de junho próximo. Até lá, cidadãos, empresas, especialistas e outros interessados podem enviar contribuições para o projeto, que tem a publicação do edital prevista para o segundo semestre de 2025. As informações sobre o projeto e a forma de participar da consulta podem ser conferidas no site da SPI.

Duas audiências públicas também serão realizadas para discutir a concessão. A primeira será no dia 19 próximo na Câmara de Vereadores de Campos do Jordão. A segunda é no dia 20, no formato online – o link de o será disponibilizado no site. Para participar, é preciso se inscrever também no site da secretaria.

A concessão abrange o entorno da ferrovia com a exploração do potencial turístico. Em Santo Antônio do Pinhal, que tem a primeira estação fora do município de Campos de Jordão, serão instaladas vilas comerciais e será reurbanizado o entorno do conjunto. Inaugurada em 1916, a estação Eugênio Lefévre fica no alto da serra, a 1.162 metros acima do nível do mar. O prédio foi restaurado em 2014.

No local há uma rotunda, dispositivo usado para fazer a inversão de direção das locomotivas. “No entorno da estação tem algumas casas, alguns imóveis que o concessionário pode utilizar para fazer galerias, vilas comerciais, restaurantes. A gente espera que o empresariado da região se engaje com o alocamento desses espaços. Santo Antônio do Pinhal já é um polo de atração de turistas que será alavancado com o projeto”, diz o gestor.

Conforme Benozatti, a história da estrada de ferro tem relação com o turismo, o que levou o governo a optar pelo projeto de um complexo turístico e não de transporte coletivo de ageiros. “Haverá também um serviço parador que os usuários podem usar, mas mesmo com as melhorias que vamos fazer, é difícil competir com outros meios de transporte de massa, como os ônibus urbanos”, diz.

Trem e bonde em Campos

A concessão vai abranger o trem turístico entre as estações Emílio Ribas e Abernéssia, em Campos do Jordão. A concessionária terá um ano após a do contrato para oferecer o serviço, com ao menos duas viagens por dia, inclusive nos fins de semana. Até o terceiro ano da concessão, deve funcionar o Serviço Turístico Parador Curto, com bondes, duas vezes por dia, entre a Estação Emílio Ribas e a Nova Portal.

O Serviço Turístico Médio vai operar em cinco anos, de Campos do Jordão à Estação Eugênio Lefévre, em Santo Antônio do Pinhal. A concessionária terá de recuperar estações e paradas, trilhos e o material rodante, incluindo a locomotiva Maria Fumaça de 1947, que está em bom estado. Há ainda uma locomotiva elétrica modelo E69, de 1924, que está fora de operação.

Caberá ainda à concessionária restaurar o Parque Reino das Águas Claras, no bairro de Piracuama, em Pindamonhangaba, que reúne esculturas de personagens criados pelo escritor Monteiro Lobato, como o Saci Pererê, a tia Anastácia, Emília, Narizinho, o Visconde de Sabugosa e o Rinoceronte, que ficaram abandonados. Algumas peças sofreram vandalismo.

As estações que fazem parte da estrada de ferro estão incluídas na concessão, mas nem todas serão usadas de início. São elas a Estação Abernéssia, de 1919, e Estação Emílio Ribas, de 1946, em Campos do Jordão; Estação Eugênio Lefévre, de 1916, em Santo Antônio do Pinhal; Estação Piracuama, e Estação Expedicionária, ambas de 1916, em Pindamonhangaba. A linha toda tem 23 plataformas de paradas, como a Parada Fracalanza, em Campos de Jordão.

Ferrovia está desativada

Em 2017, um acidente com um trem com 40 ageiros que saiu do trilho no trajeto entre Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão não deixou ninguém ferido, mas levou à suspensão do transporte. Em 2020, em durante a pandemia de covid-19, a linha férrea foi alvo de mais de 80 ocorrências de furtos, com a subtração de 30 quilômetros de cabos da rede aérea, que resultou na derrubada de mais de 100 postes de sustentação da rede. Ainda não houve a recuperação total dos danos.

A ferrovia foi idealizada pelos médicos sanitaristas Emílio Ribas e Victor Godinho para dar o mais rápido e confortável às pessoas que buscavam os sanatórios de Campos de Jordão para tratamento da tuberculose. A construção foi autorizada em novembro de 1910 pelo governo estadual e os 47 quilômetros de trilhos foram implantados em tempo recorde, com a inauguração em novembro de 1914.

Dois anos depois, devido ao início da Primeira Guerra Mundial, os acionistas tiveram problemas financeiros e autorizaram que a ferrovia fosse encampada pelo Estado. Em 1916, as locomotivas a vapor foram substituídas por outras a gasolina e, em 1934, a eletrificação da linha foi concluída pela English Electric. Os trens aram a transportar cargas e pessoas, até 1977, quando a ferrovia voltou a ser exclusiva para transporte de ageiros. Em 2011, a EFCJ ou a ser istrada pela Secretaria de Transportes Metropolitanos.

O que dizem as prefeituras

A prefeitura de Campos do Jordão diz que acompanha os estudos para a concessão e tem colaborado com o governo do Estado para o projeto que “reconhece o valor histórico e cultural da Estrada de Ferro e representa um avanço significativo para o turismo e a preservação do patrimônio do município”.

Já o município de Santo Antônio do Pinhal considera a reabertura da ferrovia turística essencial para o desenvolvimento da região e a Estação Eugênio Lefevre faz parte de sua história.

A prefeitura de Pindamonhangaba informou que o projeto está em fase de consulta e defende a circulação de trens até o município já na primeira fase, uma vez que a estrada de ferro está em uma região mais plana, que exige menos investimento para a recuperação.

Fonte: https://revistaferroviaria-br.informativomineiro.com/sao-paulo/campos-do-jordao-tera-concessao-turismo-ferrovias-parque-museu/

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