Valor Econômico – Mesmo sem lançar oficialmente o plano nacional de ferrovias de R$ 100 bilhões em investimentos, o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), anunciou nesta quinta-feira (15) em roadshow para investidores estrangeiros, em Nova York (EUA), os três primeiros leilões do setor na gestão Lula 3, que, juntos, somam US$ 9,443 bilhões – ou R$ 53,6 bilhões, no câmbio de R$ 5,68 registado no fim do dia.
O projeto da Ferrogrão, que promete escoar a safra de um dos maiores centros de produção agrícola do mundo, em Sinop (MT) até o porto de Miritituba, em Itaituba (PA), teve o leilão reprogramado para julho de 2026. O edital está previsto para abril.
O certame da ferrovia, com extensão de 933 quilômetros, foi anunciado para 2025, mas a liberação do projeto ainda é discutida em ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a revisão da demarcação do Parque Nacional Jamanxim para acomodar o traçado; os estudos de viabilidade precisam ser enviados e analisados pelo Tribunal de Contas da União (TCU); e licenciamento ambiental, aprovado.
Quem defende o projeto dentro do governo e no setor do agronegócio destaca que a Ferrogrão derrubará o preço do frete de grãos na região em mais de 20%, reduzindo a dependência do transporte pela BR-163 e outras rotas mais distantes que levam a carga até os portos do Sul e do Sudeste. A apresentação, obtida pelo Valor, indica que o projeto demanda investimento de US$ 3,54 bilhões (R$ 20,1 bilhões), com contrato de 69 anos.
Outra ferrovia apresentada foi o Anel Ferroviário Sudeste, com 170 quilômetros de extensão e o ao Porto do Açu (ES). O empreendimento, orçado em US$ 803 milhões (R$ 4,56 bilhões), tem leilão agendado para dezembro deste ano e publicação do edital em setembro. O prazo contratual tem duração de 50 anos.
Sendo o único dos três projetos com leilão em 2025, o anel ferroviário compreende trecho da EF-118 e foi planejado para ter duas fases. A primeira é a conexão São João da Barra (RJ) a Anchieta (ES), que é de implementação obrigatória, com exatos 169,95 quilômetros. A segunda etapa, opcional, fará a conexão do primeiro trecho até Nova Iguaçu (RJ), com mais 325 quilômetros de rede ferroviária.
Este projeto tende a ganhar atratividade com o reforço de investimento no ramal Anchieta (ES) a Santa Leopoldina (ES), que será realizado pela Vale. A mineradora firmou acordo com o Ministério dos Transportes, no qual garante que será concedido o “direito de agem”.
O terceiro projeto apresentado foi o corredor Fico-Fiol, em referência à junção da Ferrovia de Integração Centro-Oeste e Ferrovia de Integração Oeste-Leste. O projeto, batizado de Corredor Leste-Oeste, corta o país ao meio em 1,7 mil quilômetros de estrada de ferro, de Caetité (BA) a Água Boa (MT). A linha, se viabilizada, cruzará a Ferrovia Norte-Sul (FNS).
O corredor Fico-Fiol tem o maior investimento previsto: US$ 5,1 bilhões (R$ 28,93 bilhões). O leilão está previsto para junho de 2026, com divulgação do edital em março.
Aos investidores Renan Filho explicou que a demanda por transportes de carga, que antes estava no litoral, migrou nas últimas décadas para o chamado Brasil Central. “A carga não esteve sempre lá. Isso aconteceu apenas há 30 anos, 40 anos. Ou seja, a infraestrutura brasileira está precisando ser deslocada, porque a carga migrou”, destacou.
Durante o roadshow, o ministro dos Transportes sinalizou a entrega dos estudos de mais cinco projetos em 2026. A estratégia é conduzida pela Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário.
Um deles é a extensão da FNS, no trecho de Açailândia (MA) a Barcarena (PA), com extensão de 447 quilômetros. Segundo a apresentação, o trabalho técnico desse projeto será divulgado em março do próximo ano.
Outro trecho da FNS, entre Estrela D’Oeste (SP) a Chapecó (SC), percorre 1.214 quilômetros. O estudo de viabilidade, com indicação de investimento e prazo de contrato, será lançado em dezembro de 2026.
O terceiro projeto conecta a Transnordestina Logística S/A (TLSA) à FNS, entre Eliseu Martins (PI) e Estreito (TO), com 620 quilômetros. O estudo deve ser concluído em julho de 2026.
Mais uma aposta, relacionado à ferrovia Transnordestina, envolve o trecho pernambucano de Salgueiro (PE) a Suape (PE), com 548 quilômetros. Neste caso, o edital para a construção, como obra pública, deve sair em agosto deste ano, mas os estudos de concessão devem ficar prontos em dezembro do ano que vem.
O quinto projeto de ferrovia é a continuação do trecho sul da FNS, de Chapecó (SC) até Rio Grande (RS). Esta ferrovia conta com 833 quilômetros de extensão, com estudo para ser divulgado em dezembro de 2026.
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