Indústria da celulose alavanca R$ 10 bi de investimentos em logística em MS

Valor Econômico – O avanço da indústria de papel e celulose em Mato Grosso do Sul tem impulsionado uma onda de novos investimentos em logística no Estado. Entre concessões rodoviárias, intervenções públicas e ramais ferroviários, há hoje pelo menos R$ 10 bilhões de obras ligadas ao setor em curso ou em planejamento.

Uma parcela relevante desses novos investimentos deverá ser contratada hoje, no leilão de concessão da Rota da Celulose, um bloco de estradas com 870 km de extensão, que deverá gerar R$ 6,9 bilhões em melhorias.

No ano ado já houve uma primeira tentativa de licitar o projeto, que não recebeu interessados. Após reformulações no edital, o governo conseguiu atrair quatro propostas para a concorrência desta quinta-feira (8): o consórcio formado por Way e Kinea, o BTG, a XP e a K-Infra.

Além de concessões rodoviárias, o governo estadual tem uma série de obras públicas em andamento e em licitação. Atualmente o Estado realiza investimentos de cerca de R$ 243 milhões na região do chamado Vale da Celulose, que inclui onze municípios, como Água Clara, Bataguassu, Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas.

Uma das intervenções, por exemplo, é a construção de um túnel, em Ribas do Rio Pardo, voltado a veículos de grande porte para o transporte de eucalipto, obra que deverá beneficiar a fabricante Suzano.

Também estão em licitação outras obras públicas, com valor estimado de R$ 340 milhões, principalmente na região Leste do Estado, onde as fábricas estão concentradas, informou o governo.

Além disso, o Estado fechou uma parceria com o Banco Mundial para o Programa Rodar MS, que deverá financiar US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão, na cotação atual) em novas obras públicas em estradas, contemplando diversos trechos relevantes para a movimentação de celulose. “Vamos adotar um novo modelo de contratação de serviços para gerir as rodovias estaduais, com contratos de desempenho”, afirma a secretária estadual de Parcerias Estratégicas, Eliane Detoni.

Marcelo Shmid, sócio do grupo Index, consultoria especializada no setor de base florestal, diz que o Estado tem promovido avanços importantes na área de logística nos últimos anos. No entanto, segundo ele, os investimentos públicos e privados precisam continuar crescendo para dar e aos novos projetos de celulose. “A espinha dorsal de transporte da região produtora florestal do Estado até as fábricas, a BR-262 (que conecta Campo Grande a Três Lagoas, ando por Ribas do Rio Pardo e Água Clara), hoje não é suficiente para novas fábricas.”

Para além dos investimentos em rodovias, estão em andamento projetos logísticos voltados à malha ferroviária do Estado. Boa parte das iniciativas vem dos próprios fabricantes de celulose.

A obra mais recente a ser entregue foi o terminal intermodal inaugurado pela Suzano, em Inocência, para escoar a produção do Projeto Cerrado, fábrica de R$ 22,2 bilhões da companhia em Ribas do Rio Pardo, com capacidade de produzir 2,55 milhões de toneladas de celulose de eucalipto por ano.

Com área de quase 24,2 mil m2, às margens da rodovia MS-240, o terminal faz a integração do transporte rodoviário da celulose, de Ribas do Rio Pardo até Inocência, onde há conexão com a Malha Norte, corredor ferroviário operado pela Rumo e que chega até o Porto de Santos. Em funcionamento desde julho de 2024, Cerrado é a terceira fábrica de celulose da Suzano no Estado.

Outro grande projeto que deverá impulsionar investimentos logísticos na região é a primeira fábrica de celulose da chilena Arauco no Brasil, em Inocência. Com um aporte de US$ 4,6 bilhões e capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas por ano, o Projeto Sucriú deverá se tornar a maior fábrica de celulose do mundo quando entrar em operação, previsto para o último trimestre de 2027, segundo a empresa.

Apesar de avanços, solução para Malha Oeste, ferrovia que corta Estado, ainda vive um ime e poderá seguir para nova licitação

Para escoar a produção, a companhia anunciou a construção de um ramal ferroviário de 47 km, que vai conectar a futura fábrica à Malha Norte, com previsão de entrega concomitante à do projeto. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o investimento no trecho ferroviário será de aproximadamente R$ 2,8 bilhões, valor que a companhia não confirma.

Há expectativa de que mais infraestruturas logísticas saiam do papel, à medida que outras empresas anunciam novos projetos na região. A Bracell, do grupo asiático Royal Golden Eagle (RGE), possui dois processos de licenciamento em aberto no Estado, para uma unidade de 2,8 milhões de toneladas, um em Água Clara e outro em Bataguassu – o local ainda não foi definido.

“Se ela [Bracell] optar por [instalar a planta em] Água Clara irá aumentar o fluxo de transporte no mesmo eixo que hoje é utilizado pelas demais fábricas na região. Se for Bataguassu, opção que acreditamos com base nos estudos realizados, a empresa fará uso do eixo da MS-040, que está no pacote de rodovias que irão para concessão nesta semana”, avalia Shmid, do grupo Index.

Há também pedidos de autorização das fabricantes para construirem ramais ferroviários privados – projetos que, no entanto, ainda não avançaram.

No ano ado, a Eldorado obteve autorização da ANTT para construir uma ferrovia de 89 km ligando Três Lagoas e Aparecida do Taboado, com investimento estimado em R$ 890 milhões à época. A empresa firmou compromissos com o governo estadual para erguer uma nova linha de produção em Três Lagoas – porém, o investimento, que resultaria na sétima fábrica sul-mato-grossense, ainda esbarra no litígio entre as sócias, J&F Investimentos e Paper Excellence (PE).

A ANTT também já havia aprovado investimentos de R$ 1,27 bilhão para a Suzano construir e istrar uma linha férrea de 136 km também entre Três Lagoas e Aparecida do Taboado, além de um ramal ferroviário de 24,7 km na área urbana de Três Lagoas, que interligaria o Arco do Contorno da Rumo Malha Oeste às duas unidades de produção de celulose.

Apesar de autorizados, nenhum dos dois projetos saiu do papel. A leitura do mercado é que as empresas poderiam firmar um acordo para investir conjuntamente na construção de um único ramal, mas não há qualquer indicação de que elas devem seguir por esse caminho. “Penso que seria a decisão mais estratégica. A Eldorado não faria nenhum investimento desse montante antes da decisão sobre a posse da fábrica. Já a Suzano direcionou seus esforços na fábrica de Ribas”, afirma Shmid.

Como a infraestrutura no país é muito carente, é comum que as próprias donas da carga tenham de fazer os investimentos na malha, dado que a logística é uma parte importante da competitividade das empresas, afirma Maurício Lima, sócio-diretor do Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain). “Em commodities, em que há muita oscilação dos preços internacionais, a logística é quase parte do produto, e se você esta longe do porto, como é o caso do Mato Grosso do Sul, mais ainda”, afirma ele.

Apesar das iniciativas de ramais de menor porte, ainda segue travado o principal projeto ferroviário do Estado, o da Malha Oeste, com de 1.973 km. A concessão, operada pela Rumo, cruza o Mato Grosso do do Sul e segue em direção a São Paulo. Porém, o contrato vive um ime. A concessionária já manifestou o interesse em devolver o ativo, que não é rentável. Nos últimos meses, a empresa e o governo vêm tentando viabilizar uma repactuação da concessão, porém, a negociação enfrenta problemas, segundo fontes.

A ideia em debate era “enxugar” a malha ferroviária e transformar o projeto em um corredor voltado principalmente à indústria de celulose. Porém, pessoas a par do tema ouvidas pela reportagem afirmaram que a proposta de renegociação dificilmente será aceita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e que o caminho tende a ser um novo leilão da ferrovia.

A nova licitação também deverá enfrentar desafios, dado que a malha completa não é atrativa. Segundo uma fonte, os estudos apontam a possibilidade de divisão da ferrovia em diversos lotes.

Sobre o tema, o governo estadual diz que a revitalização da Malha Oeste está em avaliação no TCU e, caso seja aprovada, os investimentos poderão ser realizados a partir do segundo semestre deste ano. A Rumo afirma, em nota, que mantém o canal aberto com o poder concedente para otimização da malha.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/05/08/industria-da-celulose-alavanca-r-10-bi-de-investimentos-em-logistica-em-ms.ghtml

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