Inicialmente a Prefeitura havia anunciado um cancelamento de 90 mil cartões, mas depois esclareceu que este é o balanço de bloqueios desde o início da operação contra as fraudes, em abril de 2016, ainda na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). A gestão do prefeito João Doria (PSDB) justificou a medida afirmando ter sido “surpreendida” por uma “enorme quantidade” de cartões com o problema.
Por causa das filas, a partir desta sexta, a SPTrans prometeu ampliar o número de postos de atendimento em 20 guichês. O horário atual – das 8 horas às 17 horas – será expandido das 6 horas às 20 horas. O local é o único que atende à demanda de bilhete único, mas a empresa promete “descentralizar” o atendimento com novos postos para atender “quem foi vítima de golpe”. Também foi anunciada uma campanha de conscientização para evitar que a população compre agem mais barata em postos não credenciados.
À Rádio Estadão, o secretário municipal de Transportes, Sérgio Avelleda, reconheceu o problema. “A SPTrans fez um bloqueio muito forte e ontem (quarta-feira) não teve capacidade de atendimento. Eu já publicamente pedi desculpas, esse não é nosso padrão de serviço, não é o nosso padrão de atendimento”, disse. Ele explica que há vários pontos de venda clandestinos comercializando bilhetes frios. “Bilhetes que as pessoas recebem, creditam em um cartão, mas o dinheiro não chega à SPTrans.”
De acordo com Avelleda, a fraude está causando um “desequilíbrio na conta do sistema dos transportes de ônibus”. “Vamos atuar muito duramente para impedir a ação desses fraudadores que estão sangrando o orçamento da Prefeitura.”
Erro. Para o pesquisador em mobilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria, a SPTrans errou ao fazer os bloqueios sem aviso prévio. “Eles prejudicaram pessoas que não têm nada a ver com as fraudes. Deviam começar pela fiscalização de quem vende bilhete mais barato nas estações.” Segundo ele, o problema começou há uma semana e o Idec está fazendo uma pesquisa qualitativa sobre as pessoas afetadas, que deve ficar pronta na próxima semana. “Tem de tudo, de bilhete de estudante a vale-transporte.”
O vendedor Armódio Abdala, de 31 anos, morador de Osasco, na Grande São Paulo, foi pego de surpresa pelo bloqueio do cartão. “Estava indo trabalhar e não ou. Por sorte eu consegui usar o da minha mulher, senão estaria gastando dinheiro.” Ele era um dos que estavam na fila para resolver o problema, mas já prestes a desistir. “Fiquei uma hora na fila e não resolveram nada. E daqui ainda preciso ir para o Butantã (na zona oeste)”, reclamou.
A professora de educação infantil Maria Vieira, de 60 anos, estava na fila e afirmou que tem problema com o cartão há alguns dias. “Cheguei aqui e peguei a senha de número 203. Já estou há mais de meia hora na fila e não sai do 124. Vou precisar voltar outro dia.”
Já o estudante Diego Mendes, de 18 anos, diz que gastou R$ 50 desde que o cartão parou de funcionar, na última semana. “Disseram que eu não tinha F e foto registrados no cartão. Mas ainda não consegui resolver. Tive de pedir dinheiro para os meus pais.”
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