A comunidade de Conceiçãozinha, no Guarujá, é o último obstáculo dos trens de carga para alcançar o Porto de Santos, o maior da América Latina. Apesar de ter apenas três quilômetros, o percurso reserva surpresas inusitadas e, quase sempre, desagradáveis, garantem os maquinistas.
Com o ar dos anos e o aumento da população, a ferrovia se transformou em local de lazer dos moradores, quase o quintal de suas casas. Afinal, os barracos das 1.760 famílias estão construídos nas margens da estrada de ferro, que ocupa uma área de no máximo quatro metros de largura.
Sobre os trilhos, a população faz de tudo, de arquibancada para assistir a um jogo de futebol a um churrasquinho entre amigos no fim de semana. Quando o trem se aproxima, eles retiram, lentamente, os materiais e depois retornam à diversão.
Mas nem tudo é festa. A relação dos moradores com a ferrovia está longe de ser amistosa. Exemplo disso é que a agem diária dos trens é feita sob pedradas, protestos e olhares desconfiados. Os moradores parecem querer disputar força com a locomotiva, de centenas de toneladas. Indiferentes ao perigo, ignoram os apitos ensurdecedores de aviso do trem e permanecem nos trilhos até a proximidade da composição. Isso significa no máximo 10 metros de distância.
O maquinista Luiz Carlos Cardozo de Oliveira, há 24 anos na função, alerta que não se pode parar o trem dentro da favela. Primeiro, porque numa pequena distância fica difícil parar uma locomotiva com cerca de 60 vagões carregados com milhares de toneladas. Segundo, porque há o risco de ser saqueado e perder toda a carga.
Mas as tentativas para conter uma locomotiva não são raras. As crianças até já aprenderam como desengatar um vagão, conta ele. Pelas condições do local e segurança dos moradores, o trem não pode circular em velocidade superior a 20 quilômetros por hora. Em alguns trechos, é proibido ultraar 5 quilômetros por hora, o que facilita a ação de aproveitadores. Algumas crianças ficam na espreita para pegar o momento adequado e desengatar o trem.
Na tentativa de parar a composição, eles põem de tudo na via férrea, como sofás e refrigeradores. Oliveira conta que já viveu situação em que homens subiram no trem com uma picadeira para tentar abrir o contêiner. Nessa ocasião, eles não foram bem sucedidos. Mas em outras já conseguiram saquear até mesmo um carregamento de TVs de 29 polegadas.
O caso de Conceiçãozinha é conhecido no setor ferroviário pelo nome de invasão de faixa de domínio. E não é único no País. Segundo levantamento da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), no total, há outras 433 invasões existentes na malha concedida à iniciativa privada. O Estado campeão de invasões é o Paraná, com 104 casos. Em segundo lugar, está Pernambuco, com 52 ocorrências.
O levantamento detectou, ainda, que dentro da faixa de domínio das ferrovias, há plantações e áreas de lazer para a comunidade, com bancos, quadras esportivas e praças. Em Conceiçãozinha, bairro existente há mais de 100 anos, a malha ferroviária é istrada pela concessionária MRS, que tem um plano de retirada da população na prefeitura do município, ALL e Codesp, a do Porto de Santos.
Mesmo com o aumento da produtividade e da frota, houve redução de 80,6% no índice de acidentes, que ou de 75,5 de ocorrências por milhão de trens/km, em 1997, para 14,7 no ano ado.
O número de empregos diretos e indiretos no setor apresentou crescimento de 85%, saltando para 30.822 postos de trabalho em 2006. “A própria demanda tem estimulado os investimentos no setor”, afirma o diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça.
O valor de implantão é alto: US$ 1,5 milhão para construir um quilômetro de ferrovia, enquanto, para o mesmo percurso de uma rodovia, são necessários US$ 200 mil.
A diferença é que o setor ferroviário apresenta um dos men
Seja o primeiro a comentar